Em1889, na capital sulina, Annibal Theophilo escreveu Insaciável, em que, com a ingenuidade do adolescente, glosa o tema do poeta francês J. Richepin, autor de “O Mar” e “As Blasfêmias”.
INSACIÁVEL (J. Rechepin) Por que, mulher sem nome, Não podes ver-me descorar de febre Sem que a vaga de um riso a teus lábios assome E longo e estrídulo se quebre? Já me sinto cansado. Deixa... a que aspiras mais, inexorável? Acaso meu pudor e meu sangue inflamado Não consumiste, insaciável? Soam, escuta, os dobres Por meus desejos todos. Já não luto. Minhas carnes estão de forças quase pobres... Quero dormir um sono bruto... Mas teu riso estridente, Motejador e atroz toca rebate Dentro em meu coração, como um clarim valente Chamando as tropas ao combate! Sinto em chamas o peito Ao brilho de teus olhos fulgurantes... Produz a tua voz em minha carne o efeito De apimentados excitantes... |
Com a passagem do século, aprofundava-se a influência da cultura européia, A. Comte, Spencer, Darwin, Bacon, Kant, Taine, Newton, o positivismo, o materialismo evolucionista, a Razão Pura e Prática, a Crítica. A língua alemã passou a despertar interesse. Annibal Theophilo não fugiu à regra e, como muitos dos nossos escritores da época, dedicou-se ao estudo do alemão e da literatura germânica.
Mas, na poesia, o poeta tinha suas predileções por Théodore Banville, Leconte de Lisle, Théophilo Gautier, Heredia, François Coppée, os corifeus do parnasianismo, e naturalmente, por quem foi o seu grande mestre, Luís de Camões, e com ele Petrarca. O escritor e jornalista paraibano, Sabino de Magalhães, autor do “Livro de Maria” e “Poema da Saudade”, seu companheiro na Escola Militar, dizia em artigo publicado na imprensa gaúcha que Annibal Theophilo estudou profundamente a obra do poeta argentino Estevam Echeverria, desde moço, por volta de 1888, na cidade de Porto Alegre. Com incomum facilidade para decorar, o cadete, num impecável castelhano, declamava as amorosas estrofes. As Odes Funambulesques, as Trinta e Seis Baladas, de Banville, e os Poemas Antigos, de Lisle, eram da sua especial predileção. Perfil Era um belo tipo de homem, desempenado e varonil, os olhos negros cheios de bondade e de malícia, um certo recato de atitudes, a cabeça modelada e soberba como um bronze de Donatello... Eu conheci na minha adolescência, quando ele chegara a Manaus para tentar seduzir a fortuna, enfarado dos artifícios e das ilusões do Rio. Chegar sem bilhete de apresentação, confiando apenas no seu talento e na fama que lhe granjeara A Cegonha... “A distinção das maneiras, a graça dos calembours, a mordacidade dos epigramas, completavam a sedução de sua figura enleante”. São frases do acadêmico ilustre do Amazonas, Péricles Morais, que tão bem conheceu Annibal Theophilo, e que mais tarde veio a indicar o seu nome para patrono de uma cadeira na Academia Amazonense de Letras. Era uma homenagem sincera àquele que dedicara dez anos de sua vida às terras distantes que tanto amara. Ocupariam a cátedra patrocinada por Annibal Theophilo o suave poeta de Horas Lentas, Raimundo Monteiro; a ilustre Violeta Branca de Vasconcelos, de Ritmos da Inquieta Alegria, e Hugo Bellar, que cedeu a cadeira número 28 ao poeta Américo Antony. Um Gesto Decidido Estava Annibal Theophilo com um amigo a uma mesa de bar, na cidade de Porto Alegre. Próximo a eles sentara-se uma senhora ainda jovem, que passou a ser importunada por um grupo de rapazes que ocupavam outra mesa, adiante. Annibal, percebendo o desrespeito, num gesto largo e decidido, chamou a atenção dos moços que se haviam descontrolado e lembrou-lhes que a dama precisava ser considerada. Aquela atitude cavalheiresca de homem forte foi obedecida no mesmo instante pelo grupo, que se retirou. E a dama manifestou o seu agradecimento ao poeta, também um jovem, de 15 anos apenas. Contou-nos o episódio, num de nossos encontros, o autor de As Duas Sombras, Olegário Mariano, que lembrou, também, o gesto de Bilac, seguido por ele e pelos demais companheiros da “Sociedade Brasileira de Homens de Letras”, que derramaram no peito de Annibal Theophilo, morto, além das lágrimas, os perfumes “Vitória Essência” e “Ideal de Houbigant”. |
O Mestre Capoeira
Naquela época os moços também se dedicavam aos esportes. O jovem Annibal Theophilo aprendeu e praticou natação, esgrima e capoeira. Como nadador vamos conhece-lo em suas façanhas nas praias do Rio de Janeiro; foi esgrimista no tempo de vida militar; quanto à capoeira, nas vezes em que foi convidado a pôr em prática os seus conhecimentos, saiu-se com grande habilidade, enfrentando os “bambas no assunto”, isso por volta de 1887, em Salvador.
Na Bahia, o negro Caraparu era estimado pelos colegas de Annibal no Instituto de Ensino Secundário de Salvador. Servia há 22 anos à família do Coronel Victorino dos Santos Silva, mas nunca como escravo. O sinhô já o libertara e protegera em 1864, muitos e muitos anos antes do 1888 da Libertação. O preto velho fazia tudo que lhe confiassem com o semblante alegre e tinha verdadeira adoração pelo comandante Santos Silva.
Foi Caraparu mestre capoeira de Annibal Theophilo. Embora já tivesse ultrapassado os 60 anos, soube treinar o seu pupilo que, em pouco tempo, fazia sucessos na prática do esporte trazido da África.
O poeta completava 16 anos guapo e destro, demonstrando não estar desenvolvendo somente o intelecto, mas também o físico, por natureza privilegiada. Com 1,80 m de altura, era espadaúdo e ereto.
Mesmo depois da morte do comandante, Caraparu manteve a sua dedicação ao sinhozinho, permanecendo até os seus quase 90 anos ao lado de Annibal Theophilo e de dona Mamita.
O poeta dedicou um soneto ao preto velho no dia de seu aniversário, em 1913.
Naquela época os moços também se dedicavam aos esportes. O jovem Annibal Theophilo aprendeu e praticou natação, esgrima e capoeira. Como nadador vamos conhece-lo em suas façanhas nas praias do Rio de Janeiro; foi esgrimista no tempo de vida militar; quanto à capoeira, nas vezes em que foi convidado a pôr em prática os seus conhecimentos, saiu-se com grande habilidade, enfrentando os “bambas no assunto”, isso por volta de 1887, em Salvador.
Na Bahia, o negro Caraparu era estimado pelos colegas de Annibal no Instituto de Ensino Secundário de Salvador. Servia há 22 anos à família do Coronel Victorino dos Santos Silva, mas nunca como escravo. O sinhô já o libertara e protegera em 1864, muitos e muitos anos antes do 1888 da Libertação. O preto velho fazia tudo que lhe confiassem com o semblante alegre e tinha verdadeira adoração pelo comandante Santos Silva.
Foi Caraparu mestre capoeira de Annibal Theophilo. Embora já tivesse ultrapassado os 60 anos, soube treinar o seu pupilo que, em pouco tempo, fazia sucessos na prática do esporte trazido da África.
O poeta completava 16 anos guapo e destro, demonstrando não estar desenvolvendo somente o intelecto, mas também o físico, por natureza privilegiada. Com 1,80 m de altura, era espadaúdo e ereto.
Mesmo depois da morte do comandante, Caraparu manteve a sua dedicação ao sinhozinho, permanecendo até os seus quase 90 anos ao lado de Annibal Theophilo e de dona Mamita.
O poeta dedicou um soneto ao preto velho no dia de seu aniversário, em 1913.
AO CARAPARU (No dia do seu aniversário) Este, em quem através do tom brejeiro, Traços descubro do pro-símio antigo, Tem a têmpera forte de um guerreiro Intimorato diante do perigo. Nas horas do dever é um sobranceiro Brusco, afastado, rígido consigo; Porém, sob a rudez do marinheiro, Guarda um sincero coração de amigo. Propenso ao Bem, a desventura alheia Nele encontra os socorros e a esperança; Não é dos que se esgueiram e se somem... A festa de hoje, pois, merece-a cheia... Olhai-o, é um frágil corpo de criança Contendo, a alma de um super-homem! |
Escola Militar Da Praia Vermelha A 6 de setembro de 1893 o país se viu convulsionado com a Revolta da Armada. Os cadetes das Escolas Militares foram encaminhados para o norte do Brasil. Annibal Theophilo participou dos acontecimentos como legalista, recebendo mais tarde, ainda cadete, no Ceará, o título de capitão honorário das Forças Armadas Brasileiras, em Ordem do Dia nº 677, de 25 de outubro de 1895, por decreto publicado no Diário Oficial de 11 do mesmo mês. Na foto vemos o antigo quartel dos cadetes no Rio de Janeiro, destruído mais tarde na revolução comunista de novembro de 1935, quando era Sede do 3º R.I. (MHN) |
Viagem
Em conseqüência da Revolta da Armada, 1893-94, represália à rebelião havida na Escola Militar da Praia Vermelha, os cadetes punidos foram enviados para o norte do país. Mesmos aqueles que não aderiram à causa revolucionária contra à República tiveram que partir para o Ceará. Foi assim que o poeta Annibal Theophilo, aos 20 anos, sem contar com o prestígio do pai, começou a sua odisséia. O testemunho da família do general Marcolino Fagundes, cadete também naquela época, grande amigo do poeta, é de que ambos não participaram da intentona contra o governo, a quem defendiam. Como não houvera tempo para inquéritos, a punição atingira a todos.
Conforme informação no item “J” do ofício nº 398 S do Comando da Academia Militar das Agulhas Negras, datado de 5 de abril de 1962, sabe-se que, conforme Ordem do Dia nº 621, de 23 de fevereiro de 1895, os jovens punidos, entre eles Annibal Theophilo, reingressaram na vida militar.
De passagem por Salvador, aproveitou a oportunidade para rever seus parentes. O jovem soldado aliviava assim o seu espírito cansado pelas emoções das pugnas recentes.
Um Caso Amoroso
Todas as tardes, então saía a passear no seu baio Caboclo, puro sangue, pelas redondezas de Santo Antônio da Mouraria, apreciando a paisagem e principalmente alguém que já alguns dias lhe despertava a atenção. Essa moça, segundo amigos do poeta, teria sido a causadora, tempos mais tarde, da emoção que abalou profundamente o seu espírito:
“E ódio tive do tempo... de mim mesmo...
Da lua... e, por sobrar-me o ódio que tive,
Quase vos odiei também, Senhora”
Em crônica de Jorge Jobim, contemporâneo do poeta nos dias de glórias literárias no Rio de Janeiro, em 1912, encontramos a revelação de um grande segredo na vida de Annibal Theophilo. Vejam este soneto, Cego e Surdo, que diz muito do sentimento e caráter do escritor, ainda em plena mocidade.
Com uma carta, Annibal Theophilo enviou o poema a Maria, que não se conformava de o poeta ter tido outros namoros adolescentes e o “coração cansado de segredos”. O cadete já seguira caminho para Fortaleza.
Em conseqüência da Revolta da Armada, 1893-94, represália à rebelião havida na Escola Militar da Praia Vermelha, os cadetes punidos foram enviados para o norte do país. Mesmos aqueles que não aderiram à causa revolucionária contra à República tiveram que partir para o Ceará. Foi assim que o poeta Annibal Theophilo, aos 20 anos, sem contar com o prestígio do pai, começou a sua odisséia. O testemunho da família do general Marcolino Fagundes, cadete também naquela época, grande amigo do poeta, é de que ambos não participaram da intentona contra o governo, a quem defendiam. Como não houvera tempo para inquéritos, a punição atingira a todos.
Conforme informação no item “J” do ofício nº 398 S do Comando da Academia Militar das Agulhas Negras, datado de 5 de abril de 1962, sabe-se que, conforme Ordem do Dia nº 621, de 23 de fevereiro de 1895, os jovens punidos, entre eles Annibal Theophilo, reingressaram na vida militar.
De passagem por Salvador, aproveitou a oportunidade para rever seus parentes. O jovem soldado aliviava assim o seu espírito cansado pelas emoções das pugnas recentes.
Um Caso Amoroso
Todas as tardes, então saía a passear no seu baio Caboclo, puro sangue, pelas redondezas de Santo Antônio da Mouraria, apreciando a paisagem e principalmente alguém que já alguns dias lhe despertava a atenção. Essa moça, segundo amigos do poeta, teria sido a causadora, tempos mais tarde, da emoção que abalou profundamente o seu espírito:
“E ódio tive do tempo... de mim mesmo...
Da lua... e, por sobrar-me o ódio que tive,
Quase vos odiei também, Senhora”
Em crônica de Jorge Jobim, contemporâneo do poeta nos dias de glórias literárias no Rio de Janeiro, em 1912, encontramos a revelação de um grande segredo na vida de Annibal Theophilo. Vejam este soneto, Cego e Surdo, que diz muito do sentimento e caráter do escritor, ainda em plena mocidade.
Com uma carta, Annibal Theophilo enviou o poema a Maria, que não se conformava de o poeta ter tido outros namoros adolescentes e o “coração cansado de segredos”. O cadete já seguira caminho para Fortaleza.
Ceará
A Escola Militar de Fortaleza fora fundada em 1º de fevereiro de 1889 pelo decreto nº 10.177. Naquele centro de preparação de oficiais surgiram não somente homens de fardas mas também o chamado “viçoso batalhão de intelectuais fardados”. Ali encontraríamos um grupo de jovens de 20 anos que participavam dos movimentos literários surgidos no Ceará, principalmente no Centro Literário, através de revistas e jornais de cultura, como Iracema, A Galeria Cearense, A Pena, Almanaque do Ceará, O Ceará Ilustrado, 1º de Maio, Silva Jardim. No viçoso batalhão de intelectuais fardados do ano de 1895, vamos encontrar nomes de cadetes ligados a Annibal Theophilo, como os de Marcolino Fagundes, Ulisses Sarmento, Alípio Bandeira, João Barreto, Graco Cardoso, Solfieri Albuquerque, Álvaro Bomílcar, Antônio Ivo, Carvalho Lima, Francisco Barreto, Alfredo Severo, Viana Carvalho, Luís Agassiz, Bruno Sabóia, Eutíquio Galvão, Otacílio de Oliveira, Manoel Poggi, Couto Filho, Flávio Belleza, Leite Barreto, Côrtes Guimarães, José da Penha, todos jovens, cheios de esperança, entusiasmados com a literatura e as atividades intelectuais em geral. Por várias vezes Annibal Theophilo colaborou na revista Iracema. Ali publicou os poemas Condenação de Jesus, Lá Su, Noite Tormentosa, Ri, Coração, Baladas etc. Surgem em Fortaleza mais duas revistas. Em 29 de setembro de 1895, em A Galeria Cearense, Annibal Theophilo colabora ao lado de Antônio Augusto de Vasconcelos, Tomás Pompeu, Guilherme Studart, Pedro Queiroz, José Lino, Antônio Teodorico, J. Lopes Ribeiro, Gonçalo Couto, Alonso de Alencar, Antônio Salles e muitos mais. Em 16 de outubro do mesmo ano, A Pena se apresenta com Annibal Theophilo, Marcolino Fagundes, Júlio Olímpio, Matos Guerra, Rodrigues de Carvalho, Temístocles Machado, Lopes Ribeiro. Veremos muitos nomes de companheiros se repetirem na vida de Annibal Theophilo. Amizades nascidas nos bancos de aula, nos primeiros anos de estudo militar, permanecem mesmo depois que o poeta abandonou a vida de quartel. Marcolino Fagundes foi sempre alvo de sua amizade; Marcelino Pita da Rocha Lima, vizinho na Bahia, cadete no Ceará, continuou amigo no Rio de Janeiro. As famílias souberam prolongar aquelas relações e, Dona Mamita, mãe do poeta, depois de sua morte, morou algum tempo na casa da família Rocha Lima. Américo Abreu Lima seguiu a carreira militar, atingindo o posto de Coronel. Conviveu com o poeta na Escola do Ceará. Encontraram-se no Amazonas e mais tarde na Capital. Suas famílias até os nossos dias mantêm estreitos laços de amizade que datam de 70 anos. Dona Sinhá e Dona Santinha, viúvas de Annibal e de Américo, foram amigas inseparáveis. |
MARIA (CEGO E SURDO) De um companheiro de infantis folguedos Disseram-me que tinhas ódio e nojo, Só porque um dia te ofertou de rojo O coração cansado de segredos... Não creio. Penso que inimigos tredos Tentam ferir-te com subido arrojo. Não nascem dalma onde há sarçais de tojo Os teus olhares e sorrisos ledos. Não posso crer, Maria, porque basta Que olhes sorrindo a quem te acuse, para Saberem todos que és bondosa e casta. Não creio, enfim, porque jamais foi visto Ser má quem fosse de beleza rara Tendo o nome da Mãe de Jesus Cristo. |
O Centro Literário
Os moços militares, em Fortaleza, tiveram ótimos acolhidos da população, sabidamente hospitaleira. Muitos deles ficaram hospedados em casa de famílias ilustres, que compreenderam, de imediato, a situação dos rapazes, distantes dos seus lares, sem destino certo.
Parece-nos ter sido essa uma das circunstâncias que permitiram que aqueles jovens pudessem dar maior expansão às suas atividades intelectuais.
Já existia em Fortaleza a célebre “Padaria Espiritual”, que projetou figuras de real destaque na literatura do Ceará. Os “padeiros” fabricavam o seu “pão” saboreado por uma gente ávida das coisas do espírito. Mas no ano de 1894 iniciou-se na redação de o Comércio um movimento encabeçado por Papi Júnior, Rodrigues de Carvalho, Juvenal Galeno, Viana de Carvalho, Temístocles Machado, Rodolfo Theophilo e outros, que nada mais era que uma reação aos preceitos firmados na “Padaria”. Inclusive, muitos dos descontentes se transferiram para o novo grupo que passou a ser o campo propício para as nobres ambições dos “intelectuais fardados”, como Annibal Theophilo, Marcolino Fagundes, J. Lopes Ribeiro, e dezenas deles que se incorporaram ao movimento de 1895 e 1896. Foi “a plêiade de batalhadores que mais contribuiu para a agitação operada na nossa vida literária de 1894 a 1896”, dizia Rodrigo de Carvalho.
O resultado da competição entre esses dois grupos, com certeza foi, para a literatura cearense, e mesmo brasileira, de apreciável significação. O Ceará vivia grandes dias de atividade intelectual. Boa parcela desse sucesso se deveu, sem dúvida, ao “viçoso batalhão de intelectuais fardados”, no Centro Literário.
Não poderíamos deixar sem menção a “Fênix Estudantil”, de 1870, e a “Academia Francesa”, de 1872 – movimentos literários, também, que projetaram figuras de relevo na cultura brasileira.
Barão Studart, Juvenal Galeno, Capistrano de Abreu, Araripe Júnior, Farias Brito, Leonardo Mota, Clóvis Bevilaqua, Rocha Lima, Rodolfo Theophilo, José Albano são nomes ilustres que atuaram naquela época no chão agreste do Ceará.
Assim alguns cronistas comentaram aqueles tempos de ebulição cultural:
O desenvolvimento intelectual deve acompanhar o desenvolvimento econômico. No Ceará não se sentiu esse fato... A literatura brotava exuberante, bem diferente do que a terra produzia... Nesse Estado a literatura já chega a ser uma mania... Nunca houve no Brasil tão grande agitação da intelectualidade...
O escritor Hermes Lima afirma que a chegada dos cadetes no Ceará foi uma festa para a cidade. Nunca se havia visto tamanha ansiedade naquele povo hospitaleiro. Fortaleza vibrava e as suas ruas, com a presença dos moços do sul, assumiam um novo colorido. O “Passeio Público”, onde os cadetes iam jogar bilhar, e a Praça do Ferreira pareciam nunca ter sido tão freqüentados.
Muitos dos militares passaram logo a aceitar convites para jantares e festas nas residências dos habitantes de Fortaleza e dali surgiram romances que tiveram desfecho no altar.
Os moços militares, em Fortaleza, tiveram ótimos acolhidos da população, sabidamente hospitaleira. Muitos deles ficaram hospedados em casa de famílias ilustres, que compreenderam, de imediato, a situação dos rapazes, distantes dos seus lares, sem destino certo.
Parece-nos ter sido essa uma das circunstâncias que permitiram que aqueles jovens pudessem dar maior expansão às suas atividades intelectuais.
Já existia em Fortaleza a célebre “Padaria Espiritual”, que projetou figuras de real destaque na literatura do Ceará. Os “padeiros” fabricavam o seu “pão” saboreado por uma gente ávida das coisas do espírito. Mas no ano de 1894 iniciou-se na redação de o Comércio um movimento encabeçado por Papi Júnior, Rodrigues de Carvalho, Juvenal Galeno, Viana de Carvalho, Temístocles Machado, Rodolfo Theophilo e outros, que nada mais era que uma reação aos preceitos firmados na “Padaria”. Inclusive, muitos dos descontentes se transferiram para o novo grupo que passou a ser o campo propício para as nobres ambições dos “intelectuais fardados”, como Annibal Theophilo, Marcolino Fagundes, J. Lopes Ribeiro, e dezenas deles que se incorporaram ao movimento de 1895 e 1896. Foi “a plêiade de batalhadores que mais contribuiu para a agitação operada na nossa vida literária de 1894 a 1896”, dizia Rodrigo de Carvalho.
O resultado da competição entre esses dois grupos, com certeza foi, para a literatura cearense, e mesmo brasileira, de apreciável significação. O Ceará vivia grandes dias de atividade intelectual. Boa parcela desse sucesso se deveu, sem dúvida, ao “viçoso batalhão de intelectuais fardados”, no Centro Literário.
Não poderíamos deixar sem menção a “Fênix Estudantil”, de 1870, e a “Academia Francesa”, de 1872 – movimentos literários, também, que projetaram figuras de relevo na cultura brasileira.
Barão Studart, Juvenal Galeno, Capistrano de Abreu, Araripe Júnior, Farias Brito, Leonardo Mota, Clóvis Bevilaqua, Rocha Lima, Rodolfo Theophilo, José Albano são nomes ilustres que atuaram naquela época no chão agreste do Ceará.
Assim alguns cronistas comentaram aqueles tempos de ebulição cultural:
O desenvolvimento intelectual deve acompanhar o desenvolvimento econômico. No Ceará não se sentiu esse fato... A literatura brotava exuberante, bem diferente do que a terra produzia... Nesse Estado a literatura já chega a ser uma mania... Nunca houve no Brasil tão grande agitação da intelectualidade...
O escritor Hermes Lima afirma que a chegada dos cadetes no Ceará foi uma festa para a cidade. Nunca se havia visto tamanha ansiedade naquele povo hospitaleiro. Fortaleza vibrava e as suas ruas, com a presença dos moços do sul, assumiam um novo colorido. O “Passeio Público”, onde os cadetes iam jogar bilhar, e a Praça do Ferreira pareciam nunca ter sido tão freqüentados.
Muitos dos militares passaram logo a aceitar convites para jantares e festas nas residências dos habitantes de Fortaleza e dali surgiram romances que tiveram desfecho no altar.
Membros do “Centro Literário” – 1894 – Fortaleza
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Iracema
O nº 5, ano 1º, de 15 de agosto de 1895, da Revista Iracema, pertencente ao Centro Literário, do Ceará, publicou trabalhos com as assinaturas de Pedro Moniz, Soares Bulcão, Rodrigues de Carvalho, Alves Lima, J. Lopes Ribeiro, Quintino Cunha, Álvaro Martins, F. Weyne, Marcolino Fagundes e Annibal Theophilo. A este são dedicados dois poemas: Saudoso, de J. Lopes Ribeiro e Musa Sambista, de F. Weyne. O lema dos centristas era “Só a arte imortaliza” e o Grupo incentivava ainda outros órgãos que surgiam, como a Jandaia, sob a direção de J. Fontenelle e dos Carneiro, Mendes e Nogueira. Studart, rua Formosa nº 46, lembrando a figura do Barão, era a gráfica que imprimia Iracema. Recomendava suas congêneres, em quase todos os seus exemplares, demonstrando não se ater a mesquinhos interesses comerciais. Assim era a literatura no Ceará, “berço florido da cultura pátria”. |
Vemos acima o grupo de intelectuais que participou da organização e atuou no Centro Literário, reação à Padaria Espiritual, onde observamos vários moços fardados, transferidos do Sul do País para servirem na Escola Militar do Ceará. Eram os componentes do “viçoso batalhão de intelectuais fardados”. Assinalado, ao centro, está o poeta Annibal Theophilo, participando daquele movimento aos 20 anos de idade. Da foto acima, podemos citar os seguintes nomes: Xavier de Castro, Alencar Matos, Rodrigues de Carvalho, Fiuza de Castro, Temístocles Machado, Pádua Mamede, Joaquim Carneiro, João Lopes Ribeiro, Annibal Theophilo, Matos Guerra, F. Weyne, Antônio Ivo, J. Serpa, Marcolino Fagundes. (Pág. 68 do livro de Mário Linhares “História da Literatura no Ceará”)
Morto-Vivo
Os militares haviam chegado ao Ceará e, após algum tempo, ainda dormiam em barracas de lona, iluminadas com luz de vela, com dois ocupantes em cada uma, na expectativa de melhores tempos.
Annibal Theophilo tinha como companheiro um moço de nome Pedro da Silva, que adoecera seriamente e fora transportado para um hospital da cidade, ficando na enfermaria com outros doentes. “Pitônio”, seu apelido, era muito estimado pelos companheiros de farda, que iam sempre visitá-lo, de longe. Um certo dia, porém, chegou a triste notícia de sua morte e, embora chocados, os amigos foram enterrá-lo, em caixão lacrado, por ser doença contagiosa. Dias depois, estava Annibal debaixo da sua lona, noite avançada, de vela acesa, lendo com certa dificuldade, quando sentiu um movimento, como que entrasse alguém na barraca: “Annibal, vai rodando!... Ainda está acordado?” Era o amigo “Pitônio”, que, para o poeta, se transformara numa “alma do outro mundo”. Apavorado e gaguejando, Annibal Theophilo implorou àquele que viera lhe pregar tremendo susto: – “Pitônio, tu queres missa?!... Prometo pedir ao pessoal para mandar rezar pela tua alma!...”
Só então soube-se o que ocorrera com o “ex-defunto”. Houvera uma troca no Hospital, pois dois doentes tinham o mesmo nome.
E Annibal, depois do episódio, jamais se livrou da frase nas brincadeiras dos amigos:
– “Pitônio, tu queres missa?!...”
Morto-Vivo
Os militares haviam chegado ao Ceará e, após algum tempo, ainda dormiam em barracas de lona, iluminadas com luz de vela, com dois ocupantes em cada uma, na expectativa de melhores tempos.
Annibal Theophilo tinha como companheiro um moço de nome Pedro da Silva, que adoecera seriamente e fora transportado para um hospital da cidade, ficando na enfermaria com outros doentes. “Pitônio”, seu apelido, era muito estimado pelos companheiros de farda, que iam sempre visitá-lo, de longe. Um certo dia, porém, chegou a triste notícia de sua morte e, embora chocados, os amigos foram enterrá-lo, em caixão lacrado, por ser doença contagiosa. Dias depois, estava Annibal debaixo da sua lona, noite avançada, de vela acesa, lendo com certa dificuldade, quando sentiu um movimento, como que entrasse alguém na barraca: “Annibal, vai rodando!... Ainda está acordado?” Era o amigo “Pitônio”, que, para o poeta, se transformara numa “alma do outro mundo”. Apavorado e gaguejando, Annibal Theophilo implorou àquele que viera lhe pregar tremendo susto: – “Pitônio, tu queres missa?!... Prometo pedir ao pessoal para mandar rezar pela tua alma!...”
Só então soube-se o que ocorrera com o “ex-defunto”. Houvera uma troca no Hospital, pois dois doentes tinham o mesmo nome.
E Annibal, depois do episódio, jamais se livrou da frase nas brincadeiras dos amigos:
– “Pitônio, tu queres missa?!...”
Um Gaúcho No Pará
Belém era uma cidade movimentada, invadida pelos forasteiros. O Brasil atravessava o ciclo milionário da borracha, e convergiam para a região ao longo do Amazonas não somente brasileiros de todos os rincões, mas estrangeiros, e muitos, em busca da fortuna. Ali, em Belém do Pará, no 2º semestre de 1896, estagiavam os jovens militares. Segundo Dona Nair Dick, jornalista, filha do General Marcolino Fagundes, “os cadetes estavam exilados, cumprindo a pena imposta aos componentes das Escolas Militares do sul; haviam estado em Fortaleza no ano de 1895 e 1º semestre de 96; foram transferidos para a cidade-porto do rio gigante e aguardavam a anistia”. A Mina Literária Annibal Theophilo e seus companheiros já traziam a experiência literária dos dias de Fortaleza. Logo que chegaram a Belém do Pará, começaram a se movimentar, aproximando-se dos grupos culturais da cidade. Mas a situação social dos jovens era a mais ingrata possível. Sem habitação e sem alimentação adequada, viram-se obrigados a recorrer aos mais variados expedientes para manter uma vida digna. Entretanto não desdenharam a atividade intelectual. A Mina Literária foi a casa acolhedora daqueles rapazes, seduzidos pelas letras. Ali o poeta, sempre ao lado do seu grande amigo, Marcolino Fagundes, produziu muitos trabalhos. Ambos projetaram-se como “mineiros” do Pará. Na Revista O Olho da Rua, em vários números, vamos encontrar o “gaúcho das bandas do norte” assinando poemas. |
Em Belém do Pará, Annibal Theophilo, Marcolino Fagundes e Sudá Bolívar, embora enfrentassem dificuldades financeiras, viveram momentos pitorescos e felizes. Freqüentavam as “torrinhas” do Teatro da Paz, para assistir aos espetáculos líricos, de que eles tanto gostavam, das companhias vindas da Europa. Há uma crônica da filha de Marcolino Fagundes, Dona Nair Dick, publicada na Imprensa do Rio de Janeiro, que diz bem da graça e da beleza da época que os jovens militares enriqueceram com sua inteligência. Mais tarde viriam a ingressar na Mina Literária.
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A Mina Literária era uma associação de jovens escritores que tinham a intenção ambiciosa de desenvolver a literatura no vasto território da Amazônia. O presidente era o mestre, os secretários eram os mineiros, que viriam atuar no Poço, edifício da sociedade. Os mineiros tinham denominação, cada um deles, de um minério, “sendo facultativo o uso ou não, na assinatura de suas produções”, conforme diz J. Rolla, em A Literatura Paraense.
A 1º de janeiro de 1895 nascia a Mina Literária, no salão nobre do Teatro da Paz. Compareceram algumas dezenas de sócios. Logo depois surgiu, animada por estudantes do Liceu Paraense, a sociedade literária Ordem e Progresso, com jornal do mesmo nome.
Tudo aquilo era levado a sério e é interessante relembrar o jornalzinho O Olho da Rua, que, com ares de importância, trazia no seu frontispício a frase de Molière: “Un sot qui ne dit mot on ne distingue pas d’un savant qui se tait”.
Mais tarde a Mina cedeu lugar ao Centro Literário Amazônico, que se extinguiria com a “ida de muitos dos seus membros para o sul da República”. Regressava, então, à sua casa, deixando Belém do Pará, um considerável número de moços intelectuais, inclusive os que compunham o “garboso grupo” exportado do Ceará. A ansiedade era grande e muitos dos cadetes desistiram, não esperando a liberação governamental. Dentre eles José Feliciano de Araújo e Antônio Austregésilo, que foram estudar Medicina; Alberto de Mesquita, que ingressou na Força Pública do Pará; e Annibal Theophilo, que voltou para a casa dos pais, em Salvador, para tentar a sorte em outra atividade.
Os Vendedores De Livros
A situação dos rapazes, no Pará, era, de fato, calamitosa: pouca roupa, má dormida, alimentação reduzida, dinheiro nenhum.
Iria, no entanto, surgir a primeira oportunidade de algum ganho, por intermédio de Marcolino Fagundes, que descobrira uma livraria onde o português, dono do negócio, se deixou convencer pelo ânimo da dupla que se propunha a vender o estoque encalhado.
Os novos caixeiros, já cedinho, iniciavam a sua tarefa de forma toda original. Em frente à livraria, ficavam na calçada discutindo sobre os livros expostos na vitrina para chamar a atenção dos transeuntes. O livreiro luso ficou assombrado. Nunca tanta gente se decidira por sua loja. Os vendedores eram infernais. Comentavam sobre as obras e seus autores. Era um processo infalível. Quem se aproximasse logo se deixava empolgar pela inteligência dos vendedores e, pronto, adquiria o volume.
Mas o fato mais curioso para os dois naquilo tudo era o tratamento que o lusitano lhes dispensava: – “...Seu doutoire Annibal... seu doutoire Marcolino...”
Depois desse sucesso foi que os jovens conseguiram alugar a sua célebre choupana no subúrbio de Belém, para onde foram com o outro cadete, o Bolivar.
Annibal Theophilo Na Ópera
Visto esta seção englobar setores, que não os da música, estritamente, não será de todo impróprio relatar algum fato curioso, verificado com alguma celebridade, no reinado das Musas – uma vez constitui a poesia, também, uma modalidade de música, quanto ao ritmo, colorido e harmonia da composição poética. Isso, quando oriunda de uma fonte superior, é claro. Mesmo assim, as coisas podem assumir, por vezes, um aspecto diferente.
O fato que passamos a narrar, foi a nós confiado por pessoa que privou da intimidade do saudoso poeta Annibal Theophilo – aquele mago, das mil e uma noites, que tantas jóias nos legou, através da suntuosidade das suas rimas.
Annibal era um gaúcho bravo, de acentuada simpatia pessoal; um sorriso de criança, uma “boca de alvorada”, onde trinta e dois dentes cintilavam, branquíssimos em contraste com a tez mate da epiderme, o que dava um particular encanto. Alegre, folgazão, não perdia o humor, mesmo nas horas menos risonhas da sua inquieta existência. Pelo tempo, era ele ainda muito jovem, em início de vida, quando em Belém do Pará atravessava uma quadra difícil, lutando com toda sorte de adversidades, num meio que lhe era ainda estranho. Louco pela música, não media sacrifícios para saborear a arte lírica, comparecendo com assiduidade ao teatro, embora nas “torrinhas”, quando se apresentava ali uma boa temporada. De uma feita, surgira no Teatro da Paz uma Companhia italiana de óperas, a cuja frente, na qualidade de prima-dona, figurava um renomado soprano, Sra. Volpini. Escusado dizer que Annibal compareceu ali, na noite da estréia.
Cantava-se, parece, a “Lúcia de Lammermoor”, e, segundo a praxe, era elegante efetuar, no final do ato, uma exaltação à protagonista, o que sempre dava ensejo aos oradores (via de regra figurões da política local ou do mundo das finanças) de extravasar, em versos de pés quebrados, as suas laudas em tom de oratória suburbana. Na homenagem à Volpini adiantou-se um certo Duarte, figura super-acaciana, que enriquecera no comércio de hortaliças, quando proprietário de diversas quitandas. Por isso mesmo, não suportava o Duarte qualquer alusão ao seu passado “vegetariano”, processado entre pencas de banana e dúzias de açaí.
Uma vez no palco, passou a recitar um burlesco “improviso”, versos de todo atentatórios aos mais rudimentares tratados de versificação. Uma delícia. Vejamos:
“Pérolas de ouro,
Brilhantes de marfim
Oh! Sim!
O amor não se define
Adeus, Volpinni,
Adeus!”
Annibal não se conteve: do alto das torrinhas ergueu-se exclamando entre os dentes: “ – Que animal! – em seguida lançou o “peço a palavra”; e, ante o assombro da assistência, “declamou”, endereçando-se ao Duarte:
“Couves de batatas,
Cenouras de aipim
Oh! Sim!
O amor é um tomate
Adeus, Duarte,
Adeus!”
O teatro “veio abaixo”, com grave risco de Annibal, encarrapitado lá nas alturas...
O fato acima foi também publicado no suplemento literário do Jornal do Brasil, de 17 de janeiro de 1953, sob a responsabilidade de Múcio Leão. Por desinformação o cronista trocou o personagem central por um tal de Hugolino Giraldes, num teatro de Recife.
Mais tarde, Nair Dick publicaria a
Boêmia Espiritual De Outrora
Já dizia Ovídio nas Metamorfoses: “O engenho no tempo antigo valia mais que um tesouro; agora a falta de engenho consiste na falta de ouro”.
Aproveitando a “deixa”, buscaremos trazer a estas colunas, vez por outra, algum episódio inédito, da vida boêmia de ilustres componentes da Mina Literária do Pará, quando da sua fase áurea.
Pelo tempo, a simpática cidade de Belém abrigava uma plêiade de intelectuais, os mais brilhantes, na vida literária do país: poetas, prosadores, humoristas, em numeroso grupo, reuniam-se nos salões da Mina, dissertando em “blitz” geniais, sobre os mais variados temas.
Entre os “mineiros”, figuravam alguns cadetes sulistas, exilados da antiga Escola da Praia Vermelha, quando por ocasião da revolta, ao tempo de Floriano.
Ali aguardavam eles, pacientes, uma anistia que tardava, lutando com uma série de contratempos, entre os quais a carência absoluta de recursos financeiros. Mas, que importava? “Ardia-lhes à fronte a auréola dos eleitos”, e, serenos, encaravam os problemas do quotidiano com uma fleugma digna do Dr. Pangloss.
E assim foi que o divino vate das cegonhas – o saudoso poeta Annibal Theophilo, o então cadete Marcolino Fagundes (falecido em 1930 e ex-membro da Casa Militar do Presidente Epitácio Pessoa); e mais o jornalista Bolívar (cujo nome todo não nos ocorre), tomaram a deliberação de, juntos, alugarem um barracão de madeira, lá nos confins da cidade. Desse modo, ver-se-iam livres do jugo despótico dos locatários, das tradicionais “vagas”. Satisfeitíssimos, instalaram-se na nova “residência”, cujo mobiliário único consistia numa chave de parafusos, com a qual desparafusavam as portas, à noite, assentando-as sobre quatro tijolos, à guisa de cama.
Pela abertura, no vazio da porta, avistava-se uma nesga de céu constelado, e vinha, com a brisa fresca da noite, o ecoar difuso de estranha orquestração: cacofonia de batráquios, insetos e animais, sem regência, a disputar entre si a regalia dos “solos”.
Ali, naquele singelo cenário, brotavam as mais belas estrofes do inspirado poeta dos pampas. Ora, certa ocasião – aliás freqüente – em que se viam os nossos espirituais boêmios a braços com o mais prosaico problema, qual seja o da alimentação, uma quadra em que apenas possuíam como patrimônio a exígua soma de dois vinténs em caixa, dispuseram-se os mesmos, famintos, a aguardar à janela o pregão monótono de um esquálido guri, vendedor ambulante de uma espécie de broa (confeccionada de rebotalhos de pão), a que dava o nome de “facão”. O garoto, dir-se-ia uma ilustração viva da fome, com os ossinhos à mostra e uma voz fraca e rouquenha a apregoar: “ – Olha o facão... está quentinho!”
Annibal lambia os beiços, na expectativa do maná, enquanto Marcolino Fagundes (com aquele “humour” que todos lhe conheciam), soltava uma espetacular gargalhada, com grave assombro dos companheiros, completando a rir:
– A que ponto chegamos nós, seu Annibal... a matarmos a fome a facão! (Nair Dick)
Annibal, Marcolino E Bolívar
Os três moravam num barraco, na zona suburbana de Belém, lá mesmo onde chegaram a dormir em cima da porta apoiada em tijolos. Mais tarde, tendo melhorado a sua situação econômica, os jovens resolveram ter uma empregada, que deveria preparar as refeições. Bolívar era um glutão tremendo, adorava mastigar. Certa feita, a “Crioula” preparou-lhes um doce de bananas. Annibal e Marcolino aguardavam a hora do “saboreio”, quando souberam da limpa que Bolívar fizera. Annibal, por vingança, virou para o Pantagruel e disse: – Nós não quisemos o doce porque a “Crioula” espirrou em cima, deixando vestígios. Bolívar “endoideceu” e muito reclamou da empregada, que dizia “não espirrava há muitos anos”, desde que saíra de sua terra natal, no interior! Mesmo assim, o guloso “engoliu” a brincadeira, enquanto os dois companheiros gargalhavam, às escondidas.
Os três moços, que eram inseparáveis amigos, desde a temporada do Ceará, viveram episódios pitorescos em Belém. Conta-nos Dona Nair Dick os acontecimentos curiosos vividos pela trinca de cadetes, principalmente na época do carnaval. Os jovens artistas da glória e da alegria fantasiaram-se de palhaços brancos com bolas coloridas, golas e sapatilhas vermelhas, apresentando-se diante do público curioso da Mina Literária: Sudá Bolívar cantou o “Prólogo dos Palhaços”; Marcolino Fagundes, como exceção, muito sério, declamou os tercetos de Dante; e, finalmente, Annibal Theophilo improvisou versos magistrais, onde os presentes à festa eram retratados com sal e pimenta, num sabor de ironia e graça, muito ao gosto do inventor das “ônzimas bárbaras”. O sucesso foi grande.
Tempos mais tarde, lembrando o fato, o gaúcho e o paulista confessavam que aquilo só fora feito porque estavam longe de suas cidades há muito tempo e “precisavam sufocar a saudade, valendo-se do Carnaval”. Na verdade, mesmo em outras ocasiões, o grupo movimentava os salões da Mina e os lugares boêmios da capital paraense.
Uma Terrível “Briba”
Annibal e Marcolino adoravam ópera, e as temporadas no Teatro da Paz eram acompanhadas fielmente pelos dois. Certa vez, já no meio do 3º ato da noite lírica, Marcolino dirigiu-se a Annibal dizendo ter um bicho andando pelo seu corpo, por dentro da camisa. Era tal a aflição do paulista que o suor já lhe escorria pela testa. Annibal resolveu, agarrou o “monstro”, prendendo-o na camisa, até que terminasse o espetáculo.
Na rua, procuraram um botequim para completar a operação, resolvida com uma faca, que cortou a camisa no ponto onde o bicho estava. Surpresa: era um “briba”, ou a conhecida lagartixa das bandas do sul, o bicho que apavorou Marcolino Fagundes e que fizera com que ambos saíssem do teatro de forma tão estranha: Annibal com o braço debaixo do paletó de Marcolino e este com arrepios de aflição.
O maior prejuízo mesmo foi o buraco enorme que se fez na melhor camisa do pobre Marcolino. Só restava uma coisa, então: darem boas gargalhadas!...
No Desânimo
Marcolino Fagundes fora o companheiro de Annibal Theophilo com quem passara os momentos mais difíceis da vida de militar, da Revolução ao exílio. O poeta ofereceu ao amigo o poema No Desânimo, que é bem o reflexo de um espírito marcado pela amargura.
A 1º de janeiro de 1895 nascia a Mina Literária, no salão nobre do Teatro da Paz. Compareceram algumas dezenas de sócios. Logo depois surgiu, animada por estudantes do Liceu Paraense, a sociedade literária Ordem e Progresso, com jornal do mesmo nome.
Tudo aquilo era levado a sério e é interessante relembrar o jornalzinho O Olho da Rua, que, com ares de importância, trazia no seu frontispício a frase de Molière: “Un sot qui ne dit mot on ne distingue pas d’un savant qui se tait”.
Mais tarde a Mina cedeu lugar ao Centro Literário Amazônico, que se extinguiria com a “ida de muitos dos seus membros para o sul da República”. Regressava, então, à sua casa, deixando Belém do Pará, um considerável número de moços intelectuais, inclusive os que compunham o “garboso grupo” exportado do Ceará. A ansiedade era grande e muitos dos cadetes desistiram, não esperando a liberação governamental. Dentre eles José Feliciano de Araújo e Antônio Austregésilo, que foram estudar Medicina; Alberto de Mesquita, que ingressou na Força Pública do Pará; e Annibal Theophilo, que voltou para a casa dos pais, em Salvador, para tentar a sorte em outra atividade.
Os Vendedores De Livros
A situação dos rapazes, no Pará, era, de fato, calamitosa: pouca roupa, má dormida, alimentação reduzida, dinheiro nenhum.
Iria, no entanto, surgir a primeira oportunidade de algum ganho, por intermédio de Marcolino Fagundes, que descobrira uma livraria onde o português, dono do negócio, se deixou convencer pelo ânimo da dupla que se propunha a vender o estoque encalhado.
Os novos caixeiros, já cedinho, iniciavam a sua tarefa de forma toda original. Em frente à livraria, ficavam na calçada discutindo sobre os livros expostos na vitrina para chamar a atenção dos transeuntes. O livreiro luso ficou assombrado. Nunca tanta gente se decidira por sua loja. Os vendedores eram infernais. Comentavam sobre as obras e seus autores. Era um processo infalível. Quem se aproximasse logo se deixava empolgar pela inteligência dos vendedores e, pronto, adquiria o volume.
Mas o fato mais curioso para os dois naquilo tudo era o tratamento que o lusitano lhes dispensava: – “...Seu doutoire Annibal... seu doutoire Marcolino...”
Depois desse sucesso foi que os jovens conseguiram alugar a sua célebre choupana no subúrbio de Belém, para onde foram com o outro cadete, o Bolivar.
Annibal Theophilo Na Ópera
Visto esta seção englobar setores, que não os da música, estritamente, não será de todo impróprio relatar algum fato curioso, verificado com alguma celebridade, no reinado das Musas – uma vez constitui a poesia, também, uma modalidade de música, quanto ao ritmo, colorido e harmonia da composição poética. Isso, quando oriunda de uma fonte superior, é claro. Mesmo assim, as coisas podem assumir, por vezes, um aspecto diferente.
O fato que passamos a narrar, foi a nós confiado por pessoa que privou da intimidade do saudoso poeta Annibal Theophilo – aquele mago, das mil e uma noites, que tantas jóias nos legou, através da suntuosidade das suas rimas.
Annibal era um gaúcho bravo, de acentuada simpatia pessoal; um sorriso de criança, uma “boca de alvorada”, onde trinta e dois dentes cintilavam, branquíssimos em contraste com a tez mate da epiderme, o que dava um particular encanto. Alegre, folgazão, não perdia o humor, mesmo nas horas menos risonhas da sua inquieta existência. Pelo tempo, era ele ainda muito jovem, em início de vida, quando em Belém do Pará atravessava uma quadra difícil, lutando com toda sorte de adversidades, num meio que lhe era ainda estranho. Louco pela música, não media sacrifícios para saborear a arte lírica, comparecendo com assiduidade ao teatro, embora nas “torrinhas”, quando se apresentava ali uma boa temporada. De uma feita, surgira no Teatro da Paz uma Companhia italiana de óperas, a cuja frente, na qualidade de prima-dona, figurava um renomado soprano, Sra. Volpini. Escusado dizer que Annibal compareceu ali, na noite da estréia.
Cantava-se, parece, a “Lúcia de Lammermoor”, e, segundo a praxe, era elegante efetuar, no final do ato, uma exaltação à protagonista, o que sempre dava ensejo aos oradores (via de regra figurões da política local ou do mundo das finanças) de extravasar, em versos de pés quebrados, as suas laudas em tom de oratória suburbana. Na homenagem à Volpini adiantou-se um certo Duarte, figura super-acaciana, que enriquecera no comércio de hortaliças, quando proprietário de diversas quitandas. Por isso mesmo, não suportava o Duarte qualquer alusão ao seu passado “vegetariano”, processado entre pencas de banana e dúzias de açaí.
Uma vez no palco, passou a recitar um burlesco “improviso”, versos de todo atentatórios aos mais rudimentares tratados de versificação. Uma delícia. Vejamos:
“Pérolas de ouro,
Brilhantes de marfim
Oh! Sim!
O amor não se define
Adeus, Volpinni,
Adeus!”
Annibal não se conteve: do alto das torrinhas ergueu-se exclamando entre os dentes: “ – Que animal! – em seguida lançou o “peço a palavra”; e, ante o assombro da assistência, “declamou”, endereçando-se ao Duarte:
“Couves de batatas,
Cenouras de aipim
Oh! Sim!
O amor é um tomate
Adeus, Duarte,
Adeus!”
O teatro “veio abaixo”, com grave risco de Annibal, encarrapitado lá nas alturas...
O fato acima foi também publicado no suplemento literário do Jornal do Brasil, de 17 de janeiro de 1953, sob a responsabilidade de Múcio Leão. Por desinformação o cronista trocou o personagem central por um tal de Hugolino Giraldes, num teatro de Recife.
Mais tarde, Nair Dick publicaria a
Boêmia Espiritual De Outrora
Já dizia Ovídio nas Metamorfoses: “O engenho no tempo antigo valia mais que um tesouro; agora a falta de engenho consiste na falta de ouro”.
Aproveitando a “deixa”, buscaremos trazer a estas colunas, vez por outra, algum episódio inédito, da vida boêmia de ilustres componentes da Mina Literária do Pará, quando da sua fase áurea.
Pelo tempo, a simpática cidade de Belém abrigava uma plêiade de intelectuais, os mais brilhantes, na vida literária do país: poetas, prosadores, humoristas, em numeroso grupo, reuniam-se nos salões da Mina, dissertando em “blitz” geniais, sobre os mais variados temas.
Entre os “mineiros”, figuravam alguns cadetes sulistas, exilados da antiga Escola da Praia Vermelha, quando por ocasião da revolta, ao tempo de Floriano.
Ali aguardavam eles, pacientes, uma anistia que tardava, lutando com uma série de contratempos, entre os quais a carência absoluta de recursos financeiros. Mas, que importava? “Ardia-lhes à fronte a auréola dos eleitos”, e, serenos, encaravam os problemas do quotidiano com uma fleugma digna do Dr. Pangloss.
E assim foi que o divino vate das cegonhas – o saudoso poeta Annibal Theophilo, o então cadete Marcolino Fagundes (falecido em 1930 e ex-membro da Casa Militar do Presidente Epitácio Pessoa); e mais o jornalista Bolívar (cujo nome todo não nos ocorre), tomaram a deliberação de, juntos, alugarem um barracão de madeira, lá nos confins da cidade. Desse modo, ver-se-iam livres do jugo despótico dos locatários, das tradicionais “vagas”. Satisfeitíssimos, instalaram-se na nova “residência”, cujo mobiliário único consistia numa chave de parafusos, com a qual desparafusavam as portas, à noite, assentando-as sobre quatro tijolos, à guisa de cama.
Pela abertura, no vazio da porta, avistava-se uma nesga de céu constelado, e vinha, com a brisa fresca da noite, o ecoar difuso de estranha orquestração: cacofonia de batráquios, insetos e animais, sem regência, a disputar entre si a regalia dos “solos”.
Ali, naquele singelo cenário, brotavam as mais belas estrofes do inspirado poeta dos pampas. Ora, certa ocasião – aliás freqüente – em que se viam os nossos espirituais boêmios a braços com o mais prosaico problema, qual seja o da alimentação, uma quadra em que apenas possuíam como patrimônio a exígua soma de dois vinténs em caixa, dispuseram-se os mesmos, famintos, a aguardar à janela o pregão monótono de um esquálido guri, vendedor ambulante de uma espécie de broa (confeccionada de rebotalhos de pão), a que dava o nome de “facão”. O garoto, dir-se-ia uma ilustração viva da fome, com os ossinhos à mostra e uma voz fraca e rouquenha a apregoar: “ – Olha o facão... está quentinho!”
Annibal lambia os beiços, na expectativa do maná, enquanto Marcolino Fagundes (com aquele “humour” que todos lhe conheciam), soltava uma espetacular gargalhada, com grave assombro dos companheiros, completando a rir:
– A que ponto chegamos nós, seu Annibal... a matarmos a fome a facão! (Nair Dick)
Annibal, Marcolino E Bolívar
Os três moravam num barraco, na zona suburbana de Belém, lá mesmo onde chegaram a dormir em cima da porta apoiada em tijolos. Mais tarde, tendo melhorado a sua situação econômica, os jovens resolveram ter uma empregada, que deveria preparar as refeições. Bolívar era um glutão tremendo, adorava mastigar. Certa feita, a “Crioula” preparou-lhes um doce de bananas. Annibal e Marcolino aguardavam a hora do “saboreio”, quando souberam da limpa que Bolívar fizera. Annibal, por vingança, virou para o Pantagruel e disse: – Nós não quisemos o doce porque a “Crioula” espirrou em cima, deixando vestígios. Bolívar “endoideceu” e muito reclamou da empregada, que dizia “não espirrava há muitos anos”, desde que saíra de sua terra natal, no interior! Mesmo assim, o guloso “engoliu” a brincadeira, enquanto os dois companheiros gargalhavam, às escondidas.
Os três moços, que eram inseparáveis amigos, desde a temporada do Ceará, viveram episódios pitorescos em Belém. Conta-nos Dona Nair Dick os acontecimentos curiosos vividos pela trinca de cadetes, principalmente na época do carnaval. Os jovens artistas da glória e da alegria fantasiaram-se de palhaços brancos com bolas coloridas, golas e sapatilhas vermelhas, apresentando-se diante do público curioso da Mina Literária: Sudá Bolívar cantou o “Prólogo dos Palhaços”; Marcolino Fagundes, como exceção, muito sério, declamou os tercetos de Dante; e, finalmente, Annibal Theophilo improvisou versos magistrais, onde os presentes à festa eram retratados com sal e pimenta, num sabor de ironia e graça, muito ao gosto do inventor das “ônzimas bárbaras”. O sucesso foi grande.
Tempos mais tarde, lembrando o fato, o gaúcho e o paulista confessavam que aquilo só fora feito porque estavam longe de suas cidades há muito tempo e “precisavam sufocar a saudade, valendo-se do Carnaval”. Na verdade, mesmo em outras ocasiões, o grupo movimentava os salões da Mina e os lugares boêmios da capital paraense.
Uma Terrível “Briba”
Annibal e Marcolino adoravam ópera, e as temporadas no Teatro da Paz eram acompanhadas fielmente pelos dois. Certa vez, já no meio do 3º ato da noite lírica, Marcolino dirigiu-se a Annibal dizendo ter um bicho andando pelo seu corpo, por dentro da camisa. Era tal a aflição do paulista que o suor já lhe escorria pela testa. Annibal resolveu, agarrou o “monstro”, prendendo-o na camisa, até que terminasse o espetáculo.
Na rua, procuraram um botequim para completar a operação, resolvida com uma faca, que cortou a camisa no ponto onde o bicho estava. Surpresa: era um “briba”, ou a conhecida lagartixa das bandas do sul, o bicho que apavorou Marcolino Fagundes e que fizera com que ambos saíssem do teatro de forma tão estranha: Annibal com o braço debaixo do paletó de Marcolino e este com arrepios de aflição.
O maior prejuízo mesmo foi o buraco enorme que se fez na melhor camisa do pobre Marcolino. Só restava uma coisa, então: darem boas gargalhadas!...
No Desânimo
Marcolino Fagundes fora o companheiro de Annibal Theophilo com quem passara os momentos mais difíceis da vida de militar, da Revolução ao exílio. O poeta ofereceu ao amigo o poema No Desânimo, que é bem o reflexo de um espírito marcado pela amargura.
Incapacidade Física
O cadete Annibal Theophilo da Silva seria excluído da vida militar por “incapacidade física”, concedida por diversas autoridades à vista do resultado de inspeção, tal como consta da Ordem do Dia nº 747, de 1896, expedida a 15 de julho, em Fortaleza. Essa ordem chegou a Belém do Pará sem encontrar o destinatário, que já seguira para Salvador. O poeta, com seu privilegiado porte atlético, gozando de perfeita saúde, certamente “diligenciou” por obter esse reconhecimento de incapacidade física, que lhe assegurava a baixa do serviço. O importante, àquela altura, depois de tantos dissabores e sacrifícios, era alcançar a liberdade.
Dos Arquivos do Ministério da Guerra, Segunda Seção, constam os dados abaixo reproduzidos, referentes aos anos de 1895-96, período em que o poeta foi cadete no Ceará.
1895 – Aos 12 de março, na Secretaria da Escola Militar do Ceará, compareceu a praça acima que por portaria de 15 de fevereiro obteve licença para se matricular e satisfez as exigências regulamentares. Apresentou os seguintes certificados de aprovação nas matérias de Português, Francês, Geografia, História, Inglês, Alemão, Física e Química, Latim, História Natural e Desenho, pelo que foi matriculado em Aritmética e Desenho. Nos exames finais foi aprovado plenamente com grau 7, em Desenho e reprovado em Aritmética.
1896 – Excluído com baixa de serviço, por incapacidade física, a 15 de julho!
(Ass.) Alfredo da Costa Weine
O cadete Annibal Theophilo da Silva seria excluído da vida militar por “incapacidade física”, concedida por diversas autoridades à vista do resultado de inspeção, tal como consta da Ordem do Dia nº 747, de 1896, expedida a 15 de julho, em Fortaleza. Essa ordem chegou a Belém do Pará sem encontrar o destinatário, que já seguira para Salvador. O poeta, com seu privilegiado porte atlético, gozando de perfeita saúde, certamente “diligenciou” por obter esse reconhecimento de incapacidade física, que lhe assegurava a baixa do serviço. O importante, àquela altura, depois de tantos dissabores e sacrifícios, era alcançar a liberdade.
Dos Arquivos do Ministério da Guerra, Segunda Seção, constam os dados abaixo reproduzidos, referentes aos anos de 1895-96, período em que o poeta foi cadete no Ceará.
1895 – Aos 12 de março, na Secretaria da Escola Militar do Ceará, compareceu a praça acima que por portaria de 15 de fevereiro obteve licença para se matricular e satisfez as exigências regulamentares. Apresentou os seguintes certificados de aprovação nas matérias de Português, Francês, Geografia, História, Inglês, Alemão, Física e Química, Latim, História Natural e Desenho, pelo que foi matriculado em Aritmética e Desenho. Nos exames finais foi aprovado plenamente com grau 7, em Desenho e reprovado em Aritmética.
1896 – Excluído com baixa de serviço, por incapacidade física, a 15 de julho!
(Ass.) Alfredo da Costa Weine
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