A Voz Da Imprensa
A Gazeta de Notícias, de 22 de junho de 1915, comentava o depoimento de Olavo Bilac, depois de mencionar, como testemunhas do ato criminoso, Leonídio Ribeiro Filho, Cláudio Salles Gans, Roberto Torzillo, Xavier de Freitas, Augusto Muller de Carvalho e Juvenal Pacheco, que em seus depoimentos comprometiam seriamente o acusado. Outros depoimentos aumentariam o rol de acusações. Disse Bilac: “...que durante toda a tarde e até no momento de serem fotografados, Annibal Theophilo esteve sempre despreocupado de qualquer sentimento alheio à literatura e à nossa convivência social; que Annibal Theophilo, que estava em excelente disposição de bom-humor e alegria, acedeu ao seu convite para jantar; que iria ao Teatro Municipal, onde o chamavam deveres de sua função; que durante longa e estreita amizade com Annibal Theophilo, nunca o viu armado e nunca o viu intrometer-se em conflitos; que por várias vezes atravessando a Avenida Rio Branco em companhia de Annibal Theophilo encontrou o acusado, cumprimentando e recebendo o seu cumprimento, sem que da parte de Annibal Theophilo partisse qualquer provocação para o acusado; que nunca presenciou conflito nem troca de palavras ásperas entre o acusado e a vítima; sabe apenas que a vítima tinha em conta o péssimo caráter do acusado; que nunca, repete, assistiu, pessoalmente, desavença entre o acusado e a vítima”. (Gazeta de Notícias, 21/6/1915 e autos do processo, fls 132). No mesmo sentido é o depoimento de Leal de Souza, redator-chefe da Careta (Depoimento fls 51 a 57, autos de declaração): “... Chegando ao Rio de Janeiro em más condições de dinheiro e saúde, o acusado foi fraternalmente acolhido por Miguel Melo Fontes, Alcides Maya e Coelho Neto, que serviu-lhe de pai abrindo-lhe a sua casa, sentou-o à sua mesa, deu-lhe dinheiro, levou-o às celebridades médicas, apresentou-o aos seus amigos; que tempos depois, quando se firmava a prosperidade literária e política do acusado, aqueles escritores e seus amigos mais íntimos, acusando-o de praticar graves deslealdades, cortaram relações com o acusado; que Annibal Theophilo, solidário com Coelho Neto e Alcides Maya e só por causa dessa solidariedade, apartou-se do acusado, fazendo chegar ao seu conhecimento; que Annibal Theophilo era absolutamente indiferente à sorte e à vida do acusado; que ainda há poucos dias fazia nesse sentido declaração categórica ao escritor Luís Edmundo, que interrogado pelo depoente de como receberia o acusado, no caso de seu comparecimento à Sociedade Brasileira de Homens de Letras, Annibal Theophilo declarou que o acusado lhe era indiferente; que ignoraria a sua presença na Sociedade e que fazia ao Sr. Oscar Lopes (Presidente da Entidade) declarações positivas no sentido de não impedir o comparecimento dele na referida associação; que não tem conhecimento que Annibal Theophilo tivesse jamais provocado o acusado; que em junho ou julho do ano passado, na redação da Careta, estando Annibal Theophilo sentado a uma mesa, olhando um jornal ilustrado, entrou o acusado; apertou a mão do depoente, dirigiu-se á mesa em que estava Annibal Theophilo a quem estendeu a mão; que Annibal Theophilo levantou os olhos, fitou-os no acusado, baixou-os à revista sem pronunciar uma palavra; ...disse que está convencido de que Annibal Theophilo não disse ao acusado “saia senão cuspo-lhe na cara”, que não cuspiu para o solo, escarnecendo, e acrescentando “você comigo não se mete”, que está convencido porque estava ao lado do acusado. (Leal de Souza – Ibidem fls 51-57) O jornal de Irineu Marinho inconformava-se também com o depoimento do assassino de Annibal Theophilo, acreditando que era “um simples e infeliz recurso de defesa com o qual pretende justificar a sua covardia monstruosa”. (A Noite, de 21 de junho de 1915) O periódico A Época (21/6/1915) reproduzia palavras textuais de Coelho Neto: “Não podemos cruzar os braços diante de tanta infâmia, de tanto cinismo e pusilanimidade. Vamos publicar um como protesto, assinado por todos os intelectuais da Sociedade de Homens de Letras. Nesse documento faremos um estudo psicológico do criminoso, observando-lhe os atos, os instintos maus, que sempre manifestou no seio da sociedade em que viveu, como um degenerado, sempre inclinado à perfídia, à maldade do crime. Teremos muitos fatos a contar, que atestam o seu mau, o seu péssimo caráter, a sua alma negra, o seu espírito requintadamente perverso. Sairemos em defesa dos nossos próprios foros de país civilizado, onde não se podem tolerar mais desses crimes nefandos, até aqui sistematicamente premeditados com uma vergonhosa impunidade, quando os que o praticam são indivíduos mais ou menos colocados em certas posições”. Este depoimento foi confirmado em publicações de outros jornais. Em A Noite, de 20/6/1915, palavras de Coelho Neto.
A Ordem, de 21 de junho, por sua vez, criticava acerbamente “a atitude indecorosa assumida pelo acusado”, unindo-se à reação que se fez sentir na imprensa toda da cidade e do país, acrescentando “...procurou todas as malhas por onde escapasse à ação da Justiça, insultando, caluniando, arquitetando mentiras, elementos que em grande messe soube avolumar para viver bem. Entre outras coisas, procurou a atenuante de “suspensão dos sentidos”; entretanto, esse calculador frio e perverso, calmamente, calculadamente, apelou para as imunidades parlamentares quando foi preso em flagrante, ainda empunhando a arma assassina”. São as palavras que são do Correio da Manhã: “...o criminoso tinha necessidade de viver bem, e a época em que estamos não presta a essas coisas fósseis que se chamam altivez, brio, caráter... estava ali um homem que iniciava a vida integralmente estragado pela ânsia de subir a todo o transe pondo em prática os seus processos sibilinos e caluniosos de defesa”. (21/6/1915) A voz da Tribuna fez-se ouvir e, em certo trecho, encontramos: “...depois de se apegar a todos os mais covardes processos, para fugir à ação da Justiça, pondo em prática um desplante inconcebível, as suas relações políticas e a audácia terrível que o elevou, na sociedade, sem a coragem de confessar o seu crime ignóbil e traiçoeiro, é preso, e, na prisão para onde foi recolhido ainda se fez de vítima... e faz aquele depoimento que é o mais eloqüente documento de insensibilidade, de falta de emoção e do alto requinte com que assassinou, pelas costas, de ao longe, um inimigo, que na ocasião nem seu adversário era... Aquela revelação sinistra é do criminoso nato. É incrível o cinismo, a impassibilidade física e moral, o instinto do crime, que ali se vê com frêmito de indignação e de horror. É uma verdadeira mortalha a que se pretende cobrir de flores... meia hora depois de decorrido o assassinato brutal, selvagem e covarde, o seu autor, que era de se presumir acabrunhado pelo horror do seu próprio crime, com os nervos superexcitados por essa vibração natural que sucede às grandes emoções humanas, calmo, frio, audacioso, narra à autoridade, à sua maneira, uma alucinação que não se pode, não se imagina, não se compreende, possa ter um fundo remotíssimo de veracidade... o autor do bárbaro assassinato fez uma narração nítida, lúcida, com uma serena linha lógica, tendo uma preocupação de forma, em luxo, de retórica, e uma urdidura de estilo que assombram. (23/6/1915) Sob o título Crime e Fatalidade, na Primeira Coluna, o jornal A Notícia, de 22/6/1915, afirmava: “A horrorosa decadência moral em que nos vamos afundando acaba de produzir mais um desses crimes monstruosos, cuja repressão se torna necessária e imperiosa toda a implacabilidade da lei... O crime toma foros de nobreza e rasga a lei para se tornar um apanágio diante do qual o código tem de fechar as suas páginas justiceiras...” Que horrorosa, que aviltante miséria, que é a explosão de ódios ou a sede de sangue de um bruto assassino da enxurrada social, e que tocante, que lamentável desgraça, que catástrofe comovente que é esse mesmo instinto odioso e sanguinário explodindo numa alma de eleição, num espírito brilhante que os primores da civilização, as irradiações deslumbradoras de uma vida superior pareciam ter depurado da sua mácula originária e da sua tara lombrosiana... Mas um civilizado, um intelectual, esse é um perseguido da fatalidade, foi vítima antes de ser algoz, é uma espécie de criatura a quem a divindade, para perder, ensandeceu. O bandido, nesses casos, é o destino, evocado lancinosamente de seu exílio há dois mil anos, para servir de autor. O Imparcial manifestava-se contra as declarações do criminoso e em suas colunas acreditava que o acusado insistia “em dizer que a vítima procurou por várias vezes agredi-lo, e, no entanto, tais agressões nunca se deram apesar de referir o acusado que nos seus encontros com a vítima achava-se sempre só. E jamais houvera testemunhas presentes às cenas...” E, mais adiante, acrescentava: Mentiu o acusado, e mentindo, não pode pretender ser um criminoso passional. E destas mentiras resulta também que o delinqüente praticou o seu delito em estado de absoluta calma e até argumentos teve para discutir suas imunidades parlamentares, a fim de não ser preso. (21/6/1915) São da edição de 20/6/1915 de A Notícia, as seguintes palavras: “Tal foi o crime de ontem, que emocionou profundamente a nossa sociedade e fez temer que, entre nós, a civilização se obliterasse por completo, pois homens intelectuais, homens de cultura e saber, por questões acirradas em encontros infelizes, liquidam as suas malquerenças a tiro, como os desclassificados dos matos não policiados.” A sociedade carioca, unânime, erguendo-se num vigoroso protesto, afirmou a sua repulsa justiceira diante do indivíduo que se escuda em imunidades parlamentares e alveja, à traição, os seus desafeiçoados desprecavidos, salientava A Careta. (26/6/1915) O Jornal do Brasil, em determinado trecho de sua edição de 21/6/1915, esclarecia: “... seja-nos lícitos consignar aqui a geral reprovação do ato que consternou profundamente a sociedade pelas circunstâncias que o cercaram e dão caráter nada nobre ao proceder do acusado, que friamente detonou três vezes a sua arma e, quando detido, invocou imunidades parlamentares como salvatério da sua ação”. Nas páginas do próprio jornal onde atuava o acusado lamentava-se ter-se transformado “um simples atrito, sem a menor importância, numa sangrenta tragédia, em que estupidamente um dos contendores perde a vida”. (O País, 21 junho, 1915) O Imparcial dizia sobre o assunto: “...é indefensável porque o seu delito repugna a qualquer figura jurídica que o justifique, e à própria psicologia das paixões, que inocenta os criminosos sociais. (20/6/1915) O Crime
Num fim de festa literária, o poeta Annibal Theophilo retirava-se, com um grupo de amigos, do salão de conferências do Jornal do Comércio, na Avenida Rio Branco, esquina de Ouvidor. No corredor, cumprimentando determinadas pessoas, recebeu acenos em gestos efusivos daquele que insistia em restabelecer amizade com o poeta. De modo firme, mas sereno, disse-lhe: – Não foi ao Sr. que eu cumprimentei; fi-lo a uma senhora que estava próximo; não se iluda, ao Sr. eu não cumprimento. Em seguida, afastou-se para a sala onde os escritores seriam fotografados. O redator de A Província de Pernambuco, de 29/6/1915, assinando o seu artigo com um K, presente àquele episódio, esclareceu: “Simples frase, frase esta que tive ocasião de ouvir. E Annibal Theophilo pronunciou estas palavras com tanta calma e tão baixo que eu supus tratar-se de uma pilhéria, pois não sabia da inimizade existente”. Após terem sido fotografados, os escritores retiraram-se. O poeta de Rimas desceu pelo elevador para “ir urgentemente à Secretaria do Teatro Municipal, onde o chamavam deveres de sua função e porque ali deveria receber a quantia de 140 mil réis, relativa a um empréstimo que fizera na Prefeitura do Distrito Federal, e, em seguida, atender ao convite que lhe fizera Bilac, para jantarem juntos com outros amigos” (A Noite, de 26/6/1915). Ao surgir no saguão do andar térreo, tendo ao lado Juvenal Pacheco, foi interpelado com petulância por um indivíduo: – O Sr. tentou desfeitear um amigo meu? Annibal, de pronto, respondeu-lhe: – Desfeiteei e não lhe dou satisfações... Eram dois homens fortes que se defrontavam. A um gesto de levantar a sua bengala contra o poeta, este agarrou-se ao seu adversário; e num impulso, afastou-o. O corpo do escritor foi atingido, nas costas, pela bala da arma do assassino que se aproximara traiçoeiramente vindo dos fundos do saguão. (Baseado nos autos do processo. Depoimentos fls. 142, 144, 145, 146, 150, 164) O Correio da Manhã acreditava que tudo aquilo fosse tramado e afirmava nas suas páginas, em 21 de junho: “Um tiro pelas costas, enquanto o cúmplice distraía Annibal Theophilo, como se fosse capaz de enfrenta-lo deveras – tal o plano covarde levado a êxito”. Em telefonema para o então Chefe de Polícia, Aurelino Leal, alguém da parte de Pinheiro Machado, o “dono da política no Brasil”, insinuou que não houvera flagrante. Sem resultado, pois os delegados Frutuoso Muniz de Aragão e Leon Roussorièrre, com a sua autoridade confirmada, fizeram cumprir a lei... Comentaria, ainda, o Correio da Manhã: “Contra o assassino, não obstante a proteção política que o cerca, foi lavrado auto de flagrante”. Mais adiante, a revista Careta emitia a sua opinião, alimentando esperanças de justiça: “Na Câmara desonrada por alguns indivíduos, ainda há consciências e caracteres íntegros: estes saberão reabilita-la, entregando o delinqüente à Justiça”. Estaria honrada a Câmara com a autorização do processo (26/6/1915). A Opinião Pública E A Interferência Política
A Noite, de 22 de junho, transcrevia uma carta assinada por Solfieri de Albuquerque, à imprensa, em que fornece pormenores do telefonema dado em nome de Pinheiro Machado, à Delegacia, em benefício do criminoso. Segundo o Correio da Manhã, fora feito por Silveira Martins Leão. Na carta, melancolicamente se comenta: “Annibal Theophilo, alma simples e meiga, em corpo de herói, era um desinteressado e entusiasta do Sr. Pinheiro Machado.” Pinheiro Machado recomendara, ainda, que os parlamentares da sua corrente prestigiassem o deputado delituoso, visitando-o no quartel de Polícia, para onde fora levado. Mal sabia ele que, pouco mais de dois meses depois, seria também alcançado pelo destino trágico em crime semelhante, morto, à traição, nas mãos de um fanático. O processo parecia ter assumido um aspecto puramente político. E, outra vez, os jornais se insurgiam: “Não haverá caudilhismo, por mais habituados que estejam em ver a politicagem dos feitores republicanos amparar a sorte de seus comuns, que salve o criminoso de ser punido pela sociedade, que ele brutalmente afrontou, eliminando um rapaz estimando e admirado geralmente” (Correio da Manhã). E, dias antes, o mesmo jornal já dizia: “É para isso que serve o prestígio do Sr. Pinheiro, para capa dos assassinos e dos criminosos que a sua politicagem sustenta...” “Os assassinos e os réprobos estavam sujeitos à ação repressiva da lei, e a lei é alguma coisa acima da eminência do Morro da Graça...” (Edições de 21 a 24/6/1915). A direção da Careta, em artigo assinado por Leal de Souza, condenava “as deprimentes atitudes políticas do Senador: Apesar das frases obscuras e das declarações ambíguas que espalha, ainda não se definiu, ainda não teve a nobreza de repelir o matador nem teve a coragem de assumir o papel de protetor de bandidos”. (26/6/1915) Continuava o artigo: “Os políticos, abroquelando-se na política, até hoje delinqüem às ocultas, escondendo as armas, procurando sítios desertos. Agora escolhem os lugares públicos, irrompem nos salões e é perante a gente mais culta, com o testemunho da sociedade mais fina, que orgulhosamente praticam o assassínio”. E, nomeando os políticos que batalhavam, às escâncaras, em defesa do deputado comprometido com a lei, dizia: “O Sr. Manoel Vilaboim, esquecendo-se de que representa na Câmara uma terra das tradições e da cultura jurídica de São Paulo, fazendo pressão sobre os delegados, procurou obstar a que se lavrasse o insofismável auto de flagrante contra o assassino. O Sr. Estácio Coimbra, relevando possuir, na defesa arrogante do assassino, a bravura que tanta falta lhe fez quando não soube defender a situação legal do estado pernambucano, invadiu uma delegacia e, abusando das suas excessivas regalias parlamentares, quis impedir a autoridade policial de aplicar as leis que lhe competia prestigiar, como legislador”. “A política imoral a cujos obscenos desmandos a nação brasileira deve a ruína financeira em que se afunda a nossa honra e a degradação moral que rola do alto para inundar todas as classes, cada dia espelhada nos atos mais públicos dos seus paredros mais audazes, excede, com uma nova miséria, as suas próprias misérias... Nos dolorosos dias desta semana enlutada pelo homicídio de um dos mais brilhantes espíritos literários do Brasil, temos assistido a um macabro bailar de verdugos em tripúdio sobre o cadáver da vítima altiva de uma traição covarde.” (Leal de Souza) Em Florianópolis, o periódico A Opinião, de 23/6/1915, na coluna assinada por Paulo Pimentel, declarava: “A imprensa unânime reclama e repele a intervenção da política que já está movendo-se para a absolvição do frio e covarde assassino”. De fato, desde o momento do crime até o dia do julgamento, mobilizou-se todo um dispositivo de força política para beneficiar o acusado, que, além de deputado, era professor de direito, advogado, escritor e jornalista. A imprensa, porém, manifestou quase unanimemente o seu repúdio ao crime e aos processos utilizados para justificar e absolver o seu autor. Os Dois Processos (Annibal Theophilo E Pinheiro Machado)
Pinheiro Machado foi assassinado em 17/9/1915, dois meses e pouco depois da morte de Annibal Theophilo. Por isso correriam paralelos mas aproximados os dois processos. No primeiro caso, políticos de uma facção poderosa, querendo libertar o criminoso deputado; no outro, querendo levar à pena máxima o assassino de Pinheiro Machado. Conseguiram o seu intento. Antecedentes Criminais: Impulsos Homicidas O homem que matou o poeta era um espírito desassossegado e conturbado. Já se havia comprometido seriamente diante dos seus pares quando, em vezes anteriores, sacara de arma, numa flagrante obsessão pela violência. Contra o ator Augusto de Campos, em Pernambuco, certa feita, comenta o Correio da Manhã, de 21/6/1915 – o moço, julgando-se ofendido com a graça do artista, que no palco declamara “O Sonho”, monólogo de Orlando Teixeira, poesia levemente humorística (Chegaram, afinal, os convidados, / Cada qual com carão desconsolado, / Mas quem meteu mais medo / Foi o Arthur de Azevedo) substituindo o nome do teatrólogo pelo do moço em questão – arremeteu-se de arma em punho, ofendidíssimo com pilhéria. Queria ser, de qualquer forma, um centro de atrações. É, outra vez, o Correio da Manhã que nos permite registrar, confirmado por outras fontes, que, nas proximidades do mesmo lugar em que “o criminoso matou ontem, à traição, procurou também matar, há tempos, com dois tiros da pistola, o Sr. Lindolfo Collor, d’a Tribuna, milagrosamente escapo do atentado”. Com a interferência de terceiros, amigos comuns, Cândido Campos, Vitorino Oliveira, redatores e diretores da Gazeta de Notícias, presentes à cena, próximo à livraria Garnier, puderam contornar a situação evitando que a polícia investigasse. A Cidade do Rio comentou o caso nos seguintes termos: “... havendo escrito violento artigo contra a personalidade literária do Sr. Lindolfo Collor (Elogios e Símbolos) e Elói Pontes (A Luta Anônima), e por ocasião em que esses homens de letras lhe pediam explicações pela agressão gratuita, o cronista de O País, tipo impulsivo, alvejou friamente o primeiro daqueles senhores, não o matando por verdadeiro milagre”. (20/6/1915) Outros casos desagradáveis se verificaram. Falava-se ainda na agressão a um companheiro de redação, Nestor Massena, atingido por bengaladas, e que “não pôde reagir porque o agressor sacara, ato contínuo, da pistola, chegando mesmo a disparar um tiro que errou o alvo”, acrescentava o Correio da Manhã (21/6/1915). Sob o título As Letras de Luto, o Jornal do Brasil fez também referência ao acontecimento... (21/6/1915). Por Que O Homem Mata ? Há estudos no Direito Penal, na Medicina Legal e na Psicologia Judiciária que fazem referências aos traços psicológicos identificadores da alma do ser comprometido com a lei: resíduos atávicos, visão de sangue, poder de posse, complexos superiores ou inferiores, vingança, rancor, traição, ciúme, inveja, paixão, fanatismo religioso ou político, ímpetos obsessivos, morbidez, alcoolismo, epilepsia, deformação dos genes ou dos cromossomos, idiossincrasias, taras sexuais, pânicos psicossomáticos, alterações psicóticas, distúrbios endocrinológicos, ataque apopléctico, disfunção patológica, desequilíbrio hormonal, ação demoníaca. Não! Nada disso!... “Desatino de um esfomeado”... Gilberto Amado identifica-se e confessa em suas memórias, na expressão mais franca de sua índole agressiva... “Me torno uma fera quando me acho de estômago vazio, sobretudo antes do almoço ou mesmo antes do jantar quando este se retarda...” Gilberto Amado diz mais, ilustrando o que chamou de “desatino de um esfomeado”, causa de suas repetidas agressividades que o teriam levado ao crime de morte... “O fato é que, tinindo de fome, fico um sujeito impossível, uma onça furando o mato, com os seus urros, à procura de presa para os dentes”... “Desatino de um esfomeado...” – “fome de matar” – É algo estarrecedor. É uma verdade declarada – uma confissão – com resultados desalentadores. As memórias confirmam a crescente e incontida síndrome da morte (Reprodução das memórias de Gilberto Amado, Mocidade no Rio e Primeira Viagem à Europa). Págs. 441 - 442. “Quem mata em certa circunstância, não quer matar um homem, mas a um homem qualquer.” (Alimena) Um Cúmplice Houvera um cúmplice na cena trágica? Alguns depoimentos pareciam responsabilizar o indivíduo que se aproximara do poeta Annibal Theophilo para interpela-lo. Teria tido a nítida intenção de distrair o poeta com o pugilato para que pudesse ser alvejado sem defesa. O jornalista Maurício de Medeiros, na sua coluna O Momento, com o título A Glória a Tiros, em A Noite, de 24/6/1915, fez uma análise psicológica do crime, e referia-se àquele que provocara a tragédia. Sua preocupação era a de que o tal indivíduo fosse enquadrado na lei. Encerrando o seu artigo de forma incisiva, declarava: “Parece que o Código Penal define, com precisão, a responsabilidade que cabe aos que prestam auxílio á execução dos crimes, mesmo quando o não tenham resolvido ou sequer provocado... E diante dos termos do Código é impossível deixar-se de considera-lo fruto abominável dessa literatura moderna de chegar à glória a tiros – como cúmplice no assassinato de Annibal Theophilo”. O empenho político protegera não somente o criminoso, mas também a quem dera início ao triste acontecimento. Sequer foi preso ou processado. Paulo Hasslocher era o nome desse personagem. O autor do crime, todos sabem, que era Gilberto Amado. “O subconsciente armazena as nossas impressões sobre o passado, expectativas sobre o futuro, frustrações, desejos, ilusões, decepções, e nossa identificação com o mundo em termos de percepção animal e instintiva. O consciente é o princípio tipicamente humano em nós, que vincula céu e terra, quer erguer-se e cai, dá um passo à frente e outro atrás, pensa que é divino e, às vezes, se comporta como um animal”. Carlos Aveline (Revista Planeta – Ed. 291 – nº 12 – Dez/1996) ... E Bilac encerra o seu poema Dualismo: Não ficas com as virtudes satisfeito, Nem te arrependes, infeliz, dos crimes: E no perpétuo ideal que te devora, Residem juntamente no teu peito Um demônio que ruge e um deus que chora. O JULGAMENTO - O Comportamento Da Justiça
O processo remetido à Promotoria dizia ter o acusado infringido o dispositivo do art. 294, § 1, do Código Penal; “ex-vi” da circunstância agravante do § 7, do art. 39, do mesmo Código, concorrendo ainda as agravantes dos § 4 e 5 desse último. A Corte marcara a data do julgamento para um ano e dias depois do crime – 30/6/1916. Em 24 de junho de 1916, O Imparcial comentava em suas páginas: “Vai o Tribunal do Júri julgar um dos crimes que mais têm emocionado a nossa sociedade, em face do modo pelo qual foi perpetrado ou cometido, em face do local e da ocasião onde se achavam reunidas pessoas de nossa mais alta sociedade, assistindo a uma festa literária, em face ainda do dano material causado, em face principalmente da qualidade e condição social do acusado, deputado federal pelo Estado de Sergipe...” O Correio da Manhã preocupava-se nestes termos: “A fim de que a sociedade por seus legítimos representantes se desagrave, restaurando a ordem tão violentamente abalada”, pedindo justiça... Entendia ainda A Época que “os crimes devem ser punidos com a mesma severidade, sejam eles cometidos pelo homem do povo ou pelo mais elevado expoente dessa ou daquela classe social”; e mais adiante: “...Cumprir a Lei e obedecer os ditames da consciência devem ser as duas últimas preocupações dos que julgam”. (24/6/1916) Debates Durante 24 horas reinou expectativa no superlotado salão da Justiça, presidido pelo Juiz Costa Ribeiro. Os debates foram emocionantes, pois deles participaram eminentes figuras da advocacia e do direito como Evaristo de Morais, Cirilo Júnior, Pinto Lima, Aníbal Freire, Manoel Vilaboim, sem esquecer o nome ilustre de Galdino de Sequeira, que atuou como Promotor. Galdino de Sequeira iniciara o seu trabalho, preocupado com que se fizesse justiça, nos seguintes termos: “Acredito que serão salvaguardados os sagrados interesses da Justiça”. E mais adiante: “É necessário que fique acentuado que qualquer pessoa responda igualmente perante a Justiça de modo a não fazer supor que ela só seja forte, severa, exigente, para os pequenos, e complacente, frouxa e improfícua para os grandes...” Referindo-se ao réu, dizia estar “a sociedade surpreendida pelo procedimento do acusado, um membro do nosso Congresso Nacional, possuidor de um título conferido por uma academia da qual é professor, e homem de cultivo intelectual demonstrado em obras e escritos publicados, que estava mais adstrito ao dever de respeitar a vida e a integridade corpórea de seu semelhante”. (Folhas do Processo) Segundo o Jornal do Brasil, “a acusação dedicou-se à apuração do livre arbítrio do crime, tentando provar a responsabilidade. Tenta eliminar a possibilidade da “privação dos sentidos”, ainda que momentaneamente; tenta desfazer a idéia de ter o réu agido sob a impressão de uma paixão qualquer – e se assim fosse, atenuaria a pena nas condições estabelecidas pelo Código do Processo Criminal, art. 42.” (30/6/1916) O promotor na sua explanação final apontava a necessidade de se fazer justiça “aplicando ao acusado a pena pedida que está em completa relação com os instintos do réu e de acordo com o crime cometido”. Mais adiante, assomaria à tribuna o brilhante advogado Cirilo Júnior, que viera de São Paulo para auxiliar na acusação. Dizia ser o réu “indefensável porque o seu delito repugna a qualquer figura jurídica que o justifique; e a própria psicologia das paixões que inocenta os criminosos sociais, e essa acusação fa-la-á o orador com as peças imprestáveis que a defesa entendeu de opor à consistência da acusação”. Aprofundando-se nas declarações que o acusado prestara logo depois do crime, encontrara provas que “por si eram bastante para excluir a procedência de quanto disse o acusado contra a sua vítima, como se não bastasse a falta de provas que devera ter dado o acusado para confirmar as restrições por si expostas na ponderação dos motivos determinantes do crime”. (Folhas do Processo) O Jornal do Comércio reproduzia o pensamento do acusador, nas suas linhas: “O réu insistia em dizer que a vítima procurou por várias vezes agredi-lo, e, no entanto, tais agressões nunca se deram, apesar de se referir o acusado que estava sempre só nos seus encontros com a vítima. Demais, o acusado nada trouxe em abono do que diz e no entanto conta que as perseguições da vítima foram testemunhadas. Por que então estas testemunhas não foram trazidas a juízo?...” Referia-se às circunstâncias fantasiadas pelo réu, “com o só escopo de tecer uma atmosfera contrária à atitude de sua vítima e a si favorável...” Acrescentava, ainda, que tudo que fora dito pelo acusado, por ele mesmo fora desmentido com fatos novos, por uma outra maneira, “tal como o fez na sua entrevista com a Gazeta de Notícias de onteontem” (o réu fora entrevistado pelo repórter daquela folha nas vésperas do julgamento). (30/6/1916) Fizera uso da palavra, na defesa do réu, Aníbal Freire, que em nome da Faculdade do Recife, vinha “sincera, nobre e firmemente interessar-se pela sorte de um de seus filhos diletos”. Durante mais de duas horas o ilustre advogado exaltou a figura do réu, “chegando às vezes a comover a platéia”, (A Noite), tal a eloqüência contida em suas frases. Manoel Vilaboim, advogado e deputado, por sua vez, afirmava em determinado trecho de sua oração que “os homens mais honestos podem, de um momento para outro, cometer crimes. Que atire a primeira pedra aquele que estiver isento de tal situação...” A defesa, citando Charles Pierre, no seu livro Patologia das Emoções, via a identificação, em certos casos, entre o patológico e psicológico, bastando tratar-se de um emotivo”. – ... É um crime passional em que o réu, temperamento emotivo, feriu a vítima. Como Se Explica A Emoção As peças positivas da autópsia e do exame da arma convenciam ter o acusado atingido a sua vítima estando de costas. Por outro lado, procurava a acusação destruir as refutações da defesa. Os muitos “incidentes havidos antes do crime”, por exemplo, foram todos desmentidos por testemunhas do valor de Coelho Neto e Olavo Bilac. A acusação dizia: “Mentindo, não pode pretender ser um criminoso passional. Dessas mentiras, resulta também que o delinqüente praticou o seu delito em estado de absoluta calma, e até argumentos teve para discutir suas imunidades parlamentares a fim de não ser preso”. Mais incisivo, o Dr. Cirilo Júnior tentava desfazer por todos os meios a possibilidade da privação dos sentidos: “Srs. Jurados, é o criminoso passional que faz no seu depoimento lógico e seguro, cheio de emoção e arte, rememorando o fato, em traço rendilhado, de largos argumentos de fantasia, desde o seu início até a sua prisão. Que logo após o crime, o réu vai à delegacia, calmo, sereno, infama a sua vítima, faz literatura; que depois do crime, invoca as suas imunidades parlamentares para não ser preso... Como dizer que ele agiu com privação dos sentidos?...” (Folhas do Processo) Outro Caminho A presença de Evaristo de Morais aumentaria o clima de expectativa. Fez-se silêncio no auditório quando o criminalista começou a sua defesa: “...E quereis maior prova de democracia do que a de se achar aqui, sentado no banco dos réus, um deputado federal, um lente de direito, um literato?...” Pretendendo destruir os argumentos de Cirilo Júnior, que se preocupara com o fato de ser “impossível em epilético se recordar do crime”, cita os ensinamentos da grande escola francesa que contestam a tese e conclui: “Ora, se o epilético se lembra das passagens do crime, com mais razão o emotivo, o passional, se deve lembrar. Muitas vezes quando pratica um ato violento, só com a vista do sangue, o choque moral exerce nos nervos o efeito de uma ducha de água fria, que desperta todos os sentidos...” para completar: “Obcecado pela perpetração do crime, a vista do sangue despertou-o dessa letargia e rememorou todos os fatos anteriores ao crime, logo em seguida à pratica”. (Folhas do Processo) Insistindo em acentuar o valor da paixão violenta, declarava que “nem o amor e o instinto da própria conservação é maior do que a paixão violenta que se apodera do indivíduo subitamente”...e mais: “a alma dos criminosos passionais é feita de tempestades psicológicas que a impelem”. Patético, exclama: “Onde vai a vontade do passional naufragado na tempestade das paixões?... um homem normal, não louco, um homem aparentemente equilibrado que não sofre de perturbações patológicas pode perfeitamente ser vítima de uma emoção ou de uma paixão, que se pode confundir com a de um temperamento doentio”. Finalmente, valendo-se de Ferri e Bonono, achava que “a pena a aplicar para os passionais não é a da penitenciária, não é a do cárcere, porque este é contrário ao fim a que se lhe aplica”... Pugnando pela absolvição, a defesa alegava que o réu se achava em estado de “completa privação de sentidos e da inteligência no ato de cometer o crime” e pedia que o tribunal consignasse o quesito da perturbação dos sentidos e da inteligência. (Folhas do Processo) Volta A Acusação Retornava a acusação, na palavra de Pinto Lima: “...o banco dos réus está hoje ocupado por representante do Direito, do povo e das letras, com um grau de responsabilidade muito maior. O veredictum do Tribunal deve ser, porém, igual ao que é proferido contra qualquer deserdado da sorte”... Depois de ter traçado o perfil psicológico e moral do criminoso passou a contestar a defesa que enfatizara nas desavenças literárias: “À inveja da coterie da nossa literatura se devia, como sustentou a defesa, a trama de intrigas e despeitos, que criaram uma situação de tal gravidade para o indiciado que, mais poderosa que a sua vontade, o conduziu até o banco dos réus”. Ponderava, então, Pinto Lima que “outros espíritos brilhantes, celebrações poderosas, talentos respeitados há entre nós que não sofreram nunca tal inveja, nem se viram jamais em tais tramas”. Ao longo dos debates o advogado Pinto Lima afirma, apoiado em jornais, que exibe, “nem tão imaculado é o talento de quem tem sido acusado de plágio repetidas vezes, sem oferecer, quanto a isso, uma contestação digna de fé”. Referindo-se ao temperamento do Dr. Gilberto Amado, diz que ele já foi também acusado de manejar melhor a tampa do açucareiro do que a pena. E isso porque, no 7º Distrito Policial, está registrada uma queixa, que lê, de que o Dr. Gilberto Amado, em momento de ira, atirou uma tampa de açucareiro na cabeça de um criado, produzindo-lhe um ferimento contuso. (Jornal do Comércio, 30 de junho de 1916) “... Lembra no Tribunal que o acusado não é nenhum neófito na arte de atirar. Em Pernambuco – é certo que há dez anos – muito exercitou esse esporte, o que foi afirmado pela palavra insuspeita do professor Dr. Anibal Freire.” (Jornal do Comércio, 30 de junho de 1916) Frase Histórica Parecendo antever o resultado do julgamento, de volta à Tribuna, Cirilo Júnior, em voz comovida, no auge da eloqüência, produz a célebre invectiva, tão conhecida nos meios forenses e difundida por todos os órgãos de nossa imprensa: “– Vai, mata, sê rico; os homens amanhã te aplaudirão; tu serás querido, adulado, feliz; tuas virtudes serão proclamadas; realizarás grandes obras. A tua vontade é mais forte, deve superar as resistências e os escrúpulos banais... Vai, mata, sê absolvido... Mas, antes de ir, assassina também as tradições de honra deste Tribunal.” (Folhas do Processo) Cabe-nos aqui reafirmar o nosso propósito de apenas relatar os fatos históricos com alentada documentação. Não há, de nossa parte, nenhum menosprezo ao resultado do julgamento. Para nós a Justiça é soberana. “... Observo que o Notificado não fez nenhuma crítica à decisão do Tribunal que julgou o homicídio, o qual, sem dúvida, se colocou nos limites da Lei, reconhecendo a “privação dos sentidos”.” 19ª Vara Criminal – Juiz Dr. Dalton Jesus Castro de Oliveira Costa. (25 out. 1979) A Absolvição O corpo de jurados, constituído por Pedro de Cerqueira Alambary Luz, Oscar Alves, Francisco José da Costa Barros, Luís Felipe de Souza Leal, Manuel Alves da Cruz Rios, João Gonçalves Lopes, Artur Guimarães de Araújo Jorge, absolveu o réu, com as respostas que deu aos seguintes quesitos: 1º quesito – O réu, em 19/6/1915, às 18:30 hs, mais ou menos, no saguão do Jornal do Comércio, na Avenida Rio Branco, feriu com arma de fogo o poeta Annibal Theophilo, produzindo-lhe lesões constatadas no auto da autópsia, de fls. 65? - Sim, por 7 votos. 2º quesito – Estas lesões foram, pela sua natureza, a sede, a causa eficiente da morte do ofendido? - Sim, por 7 votos. Os 3º, 4º e 5º quesitos ficaram prejudicados de acordo com as respostas dadas nos dois primeiros. 6º quesito – O réu cometeu o crime com surpresa? - Não, por 7 votos. 7º quesito – O réu tinha superioridade em armas, de modo que o ofendido não se podia defender com probabilidade de repelir a ofensa? - Sim, por 7 votos. 8º quesito – Existem circunstâncias atenuantes em favor do réu? - Sim, por 7 votos. Quesito a requerimento da defesa – O réu se achava em estado de completa privação dos sentidos e da inteligência no ato de cometer o crime? - Sim, por 4 votos. (Folhas do Processo) A Lei Penal sofreu alterações na Reforma do Código de 1940. Surpresa Um ano depois da morte de Annibal Theophilo, com a absolvição do acusado, a imprensa da capital manifestava em termos candentes a surpresa do país. O Imparcial, de 30/6/1916: “Esse veredictum embora por assim dizer esperado, produziu no espírito público uma penosa impressão. Apregoava-se a regeneração do júri carioca. As estatísticas proclamavam os resultados dos julgamentos. A lista das absolvições diminuía de modo impressionador...” E, mais adiante, prosseguia: “Pouco se lhe deu que essa absolvição fosse escandalosa e contrariasse o senso jurídico do nosso povo, que se vê nessa sentença com a sua filosofia precisa e verdadeira dos fatos, uma conseqüência lógica da desigualdade social...” Das páginas do Correio da Manhã, na mesma data: “Foi assim restituído ao convívio social, por um voto de desempate, o delinqüente, que confessou sistematicamente fora por vezes enxovalhado em público e que ao matar o seu enxovalhador o fizera com surpresa da vítima, pois atirara de modo que esta o não podia ver e sem que neste ato entrasse, de qualquer modo, a sua inteligência ou os seus sentidos. A sociedade, justamente alarmada com a desintegração operada com a prática do crime, deve receber em seu seio esta célula tão originalmente dotada de condições para vencer, com o aplauso de quantos se acostumaram a considerar bons os meios, sempre que aptos à conservação dos fins”. A Tribuna: “O júri poderá absolve-lo mas ele carregará consigo a sua eterna condenação, porque os homens de bem, esses que inquestionavelmente formam a estrutura das sociedades, sejam quais forem, esses nunca o absolverão”. (30/6/1916) Recorreu-se ao Tribunal Togado. Mas a sentença seria confirmada, não sem a advertência e a condenação da imprensa e da opinião pública. É de O Correio da Manhã a seguinte e desalentada ironia: “E o assassino do fino esteta de A Cegonha terá então de sofrer a pena, já ontem cominada, de controlar de novo, diante de seus pares, a abnegação evangélica do enxovalhado, redimido por um gesto traiçoeiro, que armou o seu braço, alheado de sua vontade, divorciado dos seus sentidos”. (30/6/1916) Por notória pressão política, exercida desde a fase policial do processo, e por defeito da legislação penal vigente (Código Penal de 1890), que admitia no crime de morte a dirimente da completa privação dos sentidos, imperfeição mais tarde corrigida no Código de 1940, que aboliu a regra, porta falsa por onde escaparam à justiça numerosos delinqüentes, sob o patrocínio de advogados hábeis, consumou-se a absolvição do assassino de Annibal Theophilo. A corte dos seus admiradores poderosos, para não melindra-lo, cobriu com o esquecimento a memória e a obra do poeta. Diário Popular De São Paulo (22/06/1915)
“Era o distinto cantor nacional um lírico que afinou as cordas do seu pletro pelo sentimento de uma emoção constante e com toda a suavidade do ritmo. Cada uma das suas poesias significa a expressão de alguma saudade ou de uma afeição caríssima. Annibal Theophilo pelo seu talento, pela sua inspiração fecunda e pela bondade dos seus afetos, cultivou a doçura das ilusões e teve esperanças brilhantes na vida operosa em que desde cedo teve que combater corajosamente para conquistar a láurea do seu nome literário. Sobre a sua sepultura desfolhamos os goivos das recordações de antiga e dedicada amizade, num momento em que se destruíram tantos anelos de felicidade e de triunfo à custa de esforços e de um denodo de dignificação pelo nome que lhe pertencia.” Leopoldo de Freitas Correio Do Povo De Porto Alegre (20/06/1915) “Poeta, em toda a extensão do vocábulo, ora ele se nos apresentava um lírico apaixonado e terno – um verdadeiro camoniano – vibrando a lira com harmonia dolencial de um cântico sagrado, ora vazando os seus versos aos rigores da forma e da arte moderna, procurando, muita vez, talha-los a rimas forçadas, e ora deixando transparecer neles uma profunda filosofia. (Sabino de Magalhães) A Ordem (21/06/1915) “O morto de ontem não era só um homem de letras distinto, era um bom, um leal, um sincero. Caráter inteiriço, imáculo; coração aberto a todas as generosidades, ninho de carinhos, imensos e de bondade sem número. No seu rosto másculo, espelhavam-se todo o espírito cavalheiresco, toda a pureza singela, toda a beleza sadia, toda a energia robusta de sua alvinitente alma.” Cidade Do Rio (2006/1915) “Annibal Theophilo, que ontem caiu prostrado pela bala assassina de um criminoso nato, era um admirável poeta. O seu livro Rimas, era uma linda coletânea de produções belíssimas, admiravelmente bem pensadas e magistralmente executadas. Quando esse livro apareceu, a crítica foi unânime em proclamar-lhe as belezas.” Jornal Do Brasil (26/06/1915) “Pelos jornais e revistas literárias brasileiras e portuguesas deixou esparsas muitas produções de valor, sentindo-se em todos os seus trabalhos de suave redolência da sinceridade de sentimento. De robusta compleição, de atividade constante, largos anos trabalhou no norte, de onde enviava aos jornais desta cidade as suas produções; e o seu temperamento de esteta e de sentimental era sempre apontado como um belo exemplo de força inteligente dos nossos homens de letras meridionais.” Gazeta Do Povo - São Paulo (21/06/1915) “O fato que preocupa, hoje, todos os espíritos é o trágico episódio, que tão dolorosamente rematou a festa literária do último sábado no Jornal do Comércio. A notícia do infausto acontecimento, que tão perto feriu as letras pátrias, derrubando, no viço da mocidade, um dos seus vigorosos e esperançosos cultores, repercutiu sensivelmente em todo o país e, em São Paulo, abalou sobremaneira a opinião pública.” Apolo (Junho de 1915) “A nossa mágoa é tanto maior quando nos recordamos que a morte abraçada ao crime foi esperar a um vão de porta, numa tocaia, um artista que vinha de tomar parte numa festa toda espiritual em que as pequenas tricas pessoais e as competições inferiores não conseguiram entrar.” O País (Junho de 1915) “Foi esse traço de coração e caráter, de generosa lhaneza, de cavalheiresca generosidade, de coragem digna, que mais talvez do que seu cintilante espírito, impôs Annibal Theophilo ao apreço dos que o conheciam de perto. Era um belo nome e uma bela figura, mas nunca foi um nome faiscante, pela aversão que sempre lhe causaram os ouropéis e as lantejoulas. Não era um tipo literário da multidão, por isso mesmo que nunca procurava forçar a popularidade; amava as letras pelo que elas lhe davam de prazer intelectual e cultuava-se com o respeito de um religioso que agradece aos céus a hora de sol que lhe concedia.” O Malho (Junho de 1915) “Annibal Theophilo, o poeta espontâneo, há muito fizera o seu nome que corria o Brasil de Sul a Norte. É notória a popularidade do seu admirável soneto A Cegonha, só comparável ao de Raymundo Corrêa, As Pombas e Ouvir Estrelas, de Olavo Bilac. Seu livro Rimas foi recebido carinhosamente pela imprensa. E com toda justiça. Os versos de Annibal Theophilo, vazados na mais pura linguagem, com um doce sabor camoniano, põem-no à altura de um dos nossos líricos mais suaves e delicados.” Jornal De Recife (Junho de 1915) “A verdade terrível e irremediável é que resvalou para todo o sempre no sólio do Nada o fulgurante poeta que foi Annibal Theophilo, um lutador valoroso, espírito inconsútil e bem jovem ainda...” A Província (Pernambuco – Recife/Junho de 1915) |
Eis a foto da capa do livro de Antero de Almeida – Reminiscências de 1903 a 1906, publicado em homenagem à memória do poeta Annibal Theophilo. O produto da venda foi oferecido à família, por intermédio da Sociedade Brasileira de Homens de Letras.
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“Cavalheiro de fino trato, simples, comunicativo, Annibal Theophilo era gerealmente simpatizado e querido. Os amigos dedicavam-lhe um afeto especial. Daí a significativa atitude da imprensa carioca. Não houve um jornal que deixasse de condenar com veemência o ato do criminoso. Todos têm posto em evidência a perversidade do assassinato, a sua brutalidade, e pior ainda, a covardia com que ele foi executado, por detrás, traiçoeiramente.”
Correio Do Norte – Manaus (Junho de 1915)
“E foi Bilac, o sumo sacerdote da poesia brasileira, que espargiu com esse estranho hissope que é um vidro de essência, aquela cabeça formosa de poeta que muito pensou as formas da Beleza; aqueles olhos e a glória das imagens da vida; toda aquela forma humana que na sua harmonia encerrara a alma de um poeta e as vibrações sonoras de um artista.”
Gazeta Do Povo – São Paulo (Junho de 1915)
“Diante do cadáver ensangüentado de Annibal Theophilo, lamentamos a perda do exímio poeta que ele foi; anatematizamos o triste sintoma social, que a sua morte representa.”
O Comércio De São Paulo – São Paulo (Junho de 1915)
“Lancinante ironia do destino essa, que dá para término de uma festa de encorajamento aos homens de letras esse espetáculo de extermínio de um intelectual pelo outro, no vestíbulo iluminado do edifício onde tão promissora empresa se iniciara, cheio ainda do rumor e da graça das senhoras que foram levar o encanto feminino ao torneio de arte. Triste fecho esse de uma hora literária por um inesquecível segundo de sangue e de desolação.”
Jornal Do Comércio – Rio De Janeiro (1915)
“Annibal Theophilo, o poeta primoroso das Rimas foi muito conhecido nesta cidade, onde contava um largo círculo de amizades sinceras e onde há um círculo ainda maior de admiradores dos seus versos deliciosos.
Annibal Theophilo trabalhou muito, com dedicação e competência, conquistando a simpatia e a amizade dos seus chefes e colegas de letras. Tinha a faculdade de atrair simpatias, pela bondade do seu coração e lhaneza cativante do seu trato.”
O Imparcial (Junho de 1915)
“Annibal Theophilo era uma figura cavalheiresca, altiva, leal, mas de uma altivez amável, que lhe conquistava amigos. A amizade com que contava no coração de cada um dos seus companheiros de vida literária, que o prezavam fundamente, era uma afirmação do seu prestígio intelectual e moral, manifestado nas suas atitudes de homem de letras e de homem de sociedade.”
Jornal Do Comércio – Manaus (Junho de 1915)
“Íntimo amigo de Alberto de Oliveira, e mestre impecável do Parnasianismo, Annibal Theophilo lega à literatura nacional a suavidade amarga das Rimas. Ressentem-se os seus versos de um estranho pessimismo: a alegria deles sobre as mágoas secretas, assevera que merecem ser lidos, porque descante de uma alma simples, sensível e casta, basta que venham aureolados com a fantasia auridiáfana dos sonhos virginais, para que sejam bem sentidos, bem compreendidos.”
O Estado Do Pará – Belém (Junho de 1915)
No “O Tugúrio” Annibal Theophilo era vice-presidente, e não só na revista desse Grêmio, como em jornais e no livro Rimas, afirmou o seu brilhante estro poético.”
Paraíba Do Sul – Estado Do Rio (Junho de 1915)
“...Annibal Theophilo, esse boníssimo coração que era Annibal Theophilo... O criminoso matou um homem altivo e digno, pelo simples fato de não querer apertar-lhe a mão...”
O Estado De São Paulo – São Paulo (21/06/1915)
“Sua vida sempre fora acidentada, por muita luta e por muito trabalho. Percorrera todo o Brasil: estivera no Acre e na selva Amazônica, vivera no sul e ultimamente se fixara na Capital da República para a conquista de uma situação definida. Trabalhava muito, com dedicação e competência, conquistando a simpatia e amizade dos seus chefes. Publicara, há anos, um livro de versos – Rimas – que teve grande voga e ainda hoje é obra lida com prazer por todos os que se interessam por literatura em nosso país. Annibal Theophilo era muito conhecido e estimado. Tinha a faculdade de atrair simpatias, pela bondade de seu coração e lhaneza cativante do seu trato”...
O Imparcial (21/06/1915)
“Annibal Theophilo era um poeta de valor e justamente apreciado em nossos salões e em todo o país. O seu livro, Rimas, há poucos anos, obteve um franco e real sucesso, tendo o seu soneto, A Cegonha, de alta e profunda beleza, conseguindo uma grande e merecida popularidade”.
Correio Da Manhã (20/06/1915)
“Annibal Theophilo era um dos poetas mais apreciados da moderna geração literária. Uma das suas produções mais conhecidas é o soneto A Cegonha, que lhe valeu ser considerado, ao tempo em que o escreveu, como uma brilhante esperança, que ele plenamente realizou. Era Annibal Theophilo exímio cultor do gênero camoniano, e com essa feição deixou sonetos de inestimável valor. A poesia de Annibal Theophilo é repassada de grande delicadeza de sentimentos, que lhe era forte característica”.
A Cidade Do Rio (20/06/1915) (Crônica Do Rio)
“...ainda ontem estivemos com Annibal Theophilo. Era o mesmo homem: amável e sorridente/...” “A vida social do Rio ficou ontem paralisada pela morte de Annibal Theophilo. Ninguém pensou em outra coisa... E assim, desceu ao túmulo, entre flores e lágrimas, lágrimas sinceras de todos os amigos, o artista que tão docemente interpretara a vida nos seus carmes... Não seria natural que tivesse tido fim mais humano quem passou a vida entre o culto enternecido da amizade e o culto enternecido das musas?”
A Tribuna (28/06/1915)
“Annibal Theophilo, figura altamente simpática de um moço culto, cavalheiresco e generoso, um espírito magnífico, cheio de talento e de vida, refratário ás exibições e que modestamente ia construindo uma obra notável para o erário da poesia nacional...” “Aquela mocidade robusta ali ceifada, num verdadeiro ímpeto bestial. E a simpática fisionomia do poeta, de tez morena, olhos pequenos, vivos e penetrantes, fronte espaçosa, era evocada a dizer os versos com que pouco antes Annibal Theophilo deleitara, em cima, no salão do Jornal do Comércio, a assistência da Hora Literária”. (Euclides de Mattos)
Careta (20/06/1915)
“Era um dia claro e frio, um desses dias que punham frêmitos de entusiasmo no coração bondoso de Annibal Theophilo; a necrópole, cheia de sol, perdera o seu ar funéreo e só o conhecimento exato dos acontecimentos dava-me a certeza de que aquele grupo ilustre de escritores, carregando flores, passava por aquelas ruas silenciosas e brancas no doloroso desempenho da mais triste missão”...
Cidade De Santos – Santos (21/06/1915)
“...O coche fúnebre, todo coberto de palmas, coroas e flores, era seguido por uma longa fila de carros e automóveis, transportando os inúmeros amigos e parentes de Annibal Theophilo, no silêncio da tarde fria.”
O Imparcial (Junho de 1915)
“Toda gente sabe qual é a situação dos homens de letras no Brasil. Cigarras que são, cantam durante o estio da vida, olvidando muitas vezes o inverno, que não falha. Isso não é, porém, porque sejam eles imprevidentes. É o meio que lhes é hostil. É que eles são – realmente neste país – parafraseando uma concepção estupenda de Bilac – a cúpula de ouro deste monumento de lama. Annibal Theophilo, o suave poeta, como geralmente acontece a seus irmãos de ideal, morreu pobre, e deixou herdeiros do seu sangue e da sua alma – três filhos pequenos.”
Associação da Imprensa no seu clamor repudiou o ato criminoso.
Correio Do Norte – Manaus (Junho de 1915)
“E foi Bilac, o sumo sacerdote da poesia brasileira, que espargiu com esse estranho hissope que é um vidro de essência, aquela cabeça formosa de poeta que muito pensou as formas da Beleza; aqueles olhos e a glória das imagens da vida; toda aquela forma humana que na sua harmonia encerrara a alma de um poeta e as vibrações sonoras de um artista.”
Gazeta Do Povo – São Paulo (Junho de 1915)
“Diante do cadáver ensangüentado de Annibal Theophilo, lamentamos a perda do exímio poeta que ele foi; anatematizamos o triste sintoma social, que a sua morte representa.”
O Comércio De São Paulo – São Paulo (Junho de 1915)
“Lancinante ironia do destino essa, que dá para término de uma festa de encorajamento aos homens de letras esse espetáculo de extermínio de um intelectual pelo outro, no vestíbulo iluminado do edifício onde tão promissora empresa se iniciara, cheio ainda do rumor e da graça das senhoras que foram levar o encanto feminino ao torneio de arte. Triste fecho esse de uma hora literária por um inesquecível segundo de sangue e de desolação.”
Jornal Do Comércio – Rio De Janeiro (1915)
“Annibal Theophilo, o poeta primoroso das Rimas foi muito conhecido nesta cidade, onde contava um largo círculo de amizades sinceras e onde há um círculo ainda maior de admiradores dos seus versos deliciosos.
Annibal Theophilo trabalhou muito, com dedicação e competência, conquistando a simpatia e a amizade dos seus chefes e colegas de letras. Tinha a faculdade de atrair simpatias, pela bondade do seu coração e lhaneza cativante do seu trato.”
O Imparcial (Junho de 1915)
“Annibal Theophilo era uma figura cavalheiresca, altiva, leal, mas de uma altivez amável, que lhe conquistava amigos. A amizade com que contava no coração de cada um dos seus companheiros de vida literária, que o prezavam fundamente, era uma afirmação do seu prestígio intelectual e moral, manifestado nas suas atitudes de homem de letras e de homem de sociedade.”
Jornal Do Comércio – Manaus (Junho de 1915)
“Íntimo amigo de Alberto de Oliveira, e mestre impecável do Parnasianismo, Annibal Theophilo lega à literatura nacional a suavidade amarga das Rimas. Ressentem-se os seus versos de um estranho pessimismo: a alegria deles sobre as mágoas secretas, assevera que merecem ser lidos, porque descante de uma alma simples, sensível e casta, basta que venham aureolados com a fantasia auridiáfana dos sonhos virginais, para que sejam bem sentidos, bem compreendidos.”
O Estado Do Pará – Belém (Junho de 1915)
No “O Tugúrio” Annibal Theophilo era vice-presidente, e não só na revista desse Grêmio, como em jornais e no livro Rimas, afirmou o seu brilhante estro poético.”
Paraíba Do Sul – Estado Do Rio (Junho de 1915)
“...Annibal Theophilo, esse boníssimo coração que era Annibal Theophilo... O criminoso matou um homem altivo e digno, pelo simples fato de não querer apertar-lhe a mão...”
O Estado De São Paulo – São Paulo (21/06/1915)
“Sua vida sempre fora acidentada, por muita luta e por muito trabalho. Percorrera todo o Brasil: estivera no Acre e na selva Amazônica, vivera no sul e ultimamente se fixara na Capital da República para a conquista de uma situação definida. Trabalhava muito, com dedicação e competência, conquistando a simpatia e amizade dos seus chefes. Publicara, há anos, um livro de versos – Rimas – que teve grande voga e ainda hoje é obra lida com prazer por todos os que se interessam por literatura em nosso país. Annibal Theophilo era muito conhecido e estimado. Tinha a faculdade de atrair simpatias, pela bondade de seu coração e lhaneza cativante do seu trato”...
O Imparcial (21/06/1915)
“Annibal Theophilo era um poeta de valor e justamente apreciado em nossos salões e em todo o país. O seu livro, Rimas, há poucos anos, obteve um franco e real sucesso, tendo o seu soneto, A Cegonha, de alta e profunda beleza, conseguindo uma grande e merecida popularidade”.
Correio Da Manhã (20/06/1915)
“Annibal Theophilo era um dos poetas mais apreciados da moderna geração literária. Uma das suas produções mais conhecidas é o soneto A Cegonha, que lhe valeu ser considerado, ao tempo em que o escreveu, como uma brilhante esperança, que ele plenamente realizou. Era Annibal Theophilo exímio cultor do gênero camoniano, e com essa feição deixou sonetos de inestimável valor. A poesia de Annibal Theophilo é repassada de grande delicadeza de sentimentos, que lhe era forte característica”.
A Cidade Do Rio (20/06/1915) (Crônica Do Rio)
“...ainda ontem estivemos com Annibal Theophilo. Era o mesmo homem: amável e sorridente/...” “A vida social do Rio ficou ontem paralisada pela morte de Annibal Theophilo. Ninguém pensou em outra coisa... E assim, desceu ao túmulo, entre flores e lágrimas, lágrimas sinceras de todos os amigos, o artista que tão docemente interpretara a vida nos seus carmes... Não seria natural que tivesse tido fim mais humano quem passou a vida entre o culto enternecido da amizade e o culto enternecido das musas?”
A Tribuna (28/06/1915)
“Annibal Theophilo, figura altamente simpática de um moço culto, cavalheiresco e generoso, um espírito magnífico, cheio de talento e de vida, refratário ás exibições e que modestamente ia construindo uma obra notável para o erário da poesia nacional...” “Aquela mocidade robusta ali ceifada, num verdadeiro ímpeto bestial. E a simpática fisionomia do poeta, de tez morena, olhos pequenos, vivos e penetrantes, fronte espaçosa, era evocada a dizer os versos com que pouco antes Annibal Theophilo deleitara, em cima, no salão do Jornal do Comércio, a assistência da Hora Literária”. (Euclides de Mattos)
Careta (20/06/1915)
“Era um dia claro e frio, um desses dias que punham frêmitos de entusiasmo no coração bondoso de Annibal Theophilo; a necrópole, cheia de sol, perdera o seu ar funéreo e só o conhecimento exato dos acontecimentos dava-me a certeza de que aquele grupo ilustre de escritores, carregando flores, passava por aquelas ruas silenciosas e brancas no doloroso desempenho da mais triste missão”...
Cidade De Santos – Santos (21/06/1915)
“...O coche fúnebre, todo coberto de palmas, coroas e flores, era seguido por uma longa fila de carros e automóveis, transportando os inúmeros amigos e parentes de Annibal Theophilo, no silêncio da tarde fria.”
O Imparcial (Junho de 1915)
“Toda gente sabe qual é a situação dos homens de letras no Brasil. Cigarras que são, cantam durante o estio da vida, olvidando muitas vezes o inverno, que não falha. Isso não é, porém, porque sejam eles imprevidentes. É o meio que lhes é hostil. É que eles são – realmente neste país – parafraseando uma concepção estupenda de Bilac – a cúpula de ouro deste monumento de lama. Annibal Theophilo, o suave poeta, como geralmente acontece a seus irmãos de ideal, morreu pobre, e deixou herdeiros do seu sangue e da sua alma – três filhos pequenos.”
Associação da Imprensa no seu clamor repudiou o ato criminoso.
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