1865/1870 – Guerra Do Paraguai
Victorino dos Santos Silva nasceu na Bahia no ano de 1837. Filho de militar do mesmo nome, já nos seus dezessete anos foi sentar praça, voluntariamente, no 2º Batalhão de Infantaria, em Recife. Após ter permanecido em Pernambuco até 1862, partiu para a Corte, onde fez o curso de sua arma. Aprovado plenamente nos exames, passou a instrutor naquele setor especializado ao regressar a Pernambuco.
A situação se fazia tensa na fronteira sul do país e as tropas dirigiram-se ao Estado Oriental do Uruguai. Estávamos às vésperas da guerra com o Paraguai.
Em 1864, com o aprisionamento do vapor Marquês de Olinda, eclodiu o conflito. Dele participou ativamente Victorino dos Santos Silva.
Como alferes, pisou o solo inimigo em Itapiru. Entrando em combate a 2, 20 e 24 de maio de 1865, foi “elogiado e mencionado na parte do mando da brigada pela inteligência, valor e acerto com que transmitiu as ordens que lhe foram dadas e pela citada batalha por ter instruído os soldados na ocasião da ação na boa elevação das pontarias”, tal como consta da Ordem do Dia nº 166, do Comando em Chefe.
Tomou parte nas ações de 16 e 18 de julho como voluntário e foi chamado para ajudante de ordens do corpo de Voluntários da Pátria, com promoção a tenente. Em 24 de maio, em Tuiuti, mereceu elogio “pelo valor e sangue frio com que se portou durante o combate; e bem assim porque, tendo perdido o cavalo de sua montaria por bala de fuzil, pediu permissão para combater a pé, com as forças que saíram do reduto central a expelir o inimigo do acampamento, portando-se ainda por essa ocasião com todo o denodo, sendo contuso na coxa esquerda”.
O Marquês de Caxias, comandante chefe, por despacho de 23 de fevereiro de 1868, mandou averbar em seus assentamentos os serviços que prestou , no dia 3 de novembro de 1867, o tenente Santos Silva, conforme atestado passado pelo Coronel Fernando Machado de Souza, do qual consta “haver-se portado com inteira dedicação ao serviço, fazendo parte de uma linha de atiradores que perseguia o inimigo, retomando-lhe uma boca de fogo, no que se houve com galhardia e bravura”.
Recolheu-se ao hospital por ferimento e foi servir no corpo provisório de Corrientes, na Argentina. Ao melhorar, partiu para a guarnição de Humaitá e, a pedido, reuniu-se ao Exército, seguindo para a cidade de Assunção. Em Piraju atuou como assistente da Repartição de Ajudante General, junto ao comando da Brigada de Infantaria que à direita do Exército Argentino participou da luta junto à subida das Cordilheiras, caminho do poço de Altas, Coacupê, Caraguataí, Gassory, Aracutaguá, Vila do Rosário, São Estanislau, Potreiro Capivari, Santo Izidro de Caruguati, Manduvirá. Foi esse o itinerário tomado por Santos Silva, perseguindo o inimigo, durante os anos de 1869 e 70.
“Pela ordem do dia da Repartição de Ajudante General número 755, consta ter sido aprovado plenamente no exame prático da arma de infantaria que fez...”. Comandou interinamente a 6ª Companhia “sendo pela mesma ordem do dia elogiado pela dedicação, zelo e perícia no desempenho daquele exercício” no ano de 1873; e depois teve a 4ª Cia. sob os seus cuidados, “passando a adjunto de Repartição do Deputado do Ajudante General, junto ao Comando da Divisão”.
“Apresentou-se ao Batalhão a 9 de maio, 1875, assumindo o comando da 1ª Cia. e na mesma data apresentou o diploma de Cavaleiro da Ordem da Rosa, com que, por Decreto de Agosto de 1866, foi remunerado pelos serviços prestados nos combates de 16 e 17 de abril, 2 e 24 de maio do referido ano”.
Terminada a árdua campanha, verificou-se que para o Brasil também fora trágico o resultado. Dos 85 mil soldados brasileiros empenhados no conflito, 24 mil morreram, sem contar feridos e doentes (Oliveira Lima in O Império Brasileiro). Quanto às despesas, as cifras elevaram-se a 600 mil contos (valor da época). Mas, movido por um sentimento fraterno, iria o vencedor renunciar a muitos dos seus direitos em benefícios dos derrotados. Durante a ocupação, numerosos brasileiros casaram-se com moças paraguaias. O tenente Santos Silva foi um deles. Casou-se em 1873.
“Em detalhe do batalhão de 5 de junho foi declarado ter apresentado certidão autêntica de seu casamento com Dona Faustina Elisa Pinazo e a de batismo de seu filho Annibal Theophilo, nascido em 21 de julho de 1873”.
Após ter passado, cumprindo missão que lhe foi destinada, pelas Colônias de Brusque e de Luís Alves, e cidade do Rio Grande, mereceu Victorino dos Santos Silva a promoção ao posto de Capitão, pela O.D.R. 362 de 06/06/1881. No ano seguinte apresentou à Secretaria os diplomas das medalhas das campanhas de 1865, e do Paraguai, “tendo o passador de prata com o número cinco, etc...”
Por carta Imperial de 27 de janeiro de 1883, foi nomeado cavaleiro da Ordem Militar de São Bento de Aviz, “conforme publicou a O.D.R. 908 de 1 de julho”.
Com sete anos de serviços prestados às cidades do Rio Grande e, principalmente, à Porto Alegre, o capitão Victorino dos Santos Silva recebeu a incumbência de servir na Província de Sergipe, para onde partiu assumindo o comando da Cia. a 1º de julho de 1887, com “valioso concurso prestado à sua administração e as provas exuberantes de zelo, disciplina e lealdade, dadas no exercício de suas funções legais”.
A cidade de Porto Alegre, pela sua população, em reconhecimento ao ilustre baiano, pela sua atuação e pelo seu passado, ofereceu-lhe linda espada de ouro, conforme Ordem do Dia da Repartição de Ajudante General, nº 2112 de 26 de maio. Deu-se a público ter o Ministério da Guerra, em portaria de nº 17 do dito mês, “permitido o uso da espada de honra que lhe fora oferecida pela população da Cidade de Porto Alegre, uma vez que a dita espada não se afaste do uniforme”.
Tendo correspondido à responsabilidade que lhe fora confiada, no norte do país, o militar regressou ao Rio Grande do Sul, onde permaneceu com a família até ser incumbido do comando do 16º Batalhão de Infantaria, Quartel do Forte de São Pedro, na Bahia.
Victorino dos Santos Silva nasceu na Bahia no ano de 1837. Filho de militar do mesmo nome, já nos seus dezessete anos foi sentar praça, voluntariamente, no 2º Batalhão de Infantaria, em Recife. Após ter permanecido em Pernambuco até 1862, partiu para a Corte, onde fez o curso de sua arma. Aprovado plenamente nos exames, passou a instrutor naquele setor especializado ao regressar a Pernambuco.
A situação se fazia tensa na fronteira sul do país e as tropas dirigiram-se ao Estado Oriental do Uruguai. Estávamos às vésperas da guerra com o Paraguai.
Em 1864, com o aprisionamento do vapor Marquês de Olinda, eclodiu o conflito. Dele participou ativamente Victorino dos Santos Silva.
Como alferes, pisou o solo inimigo em Itapiru. Entrando em combate a 2, 20 e 24 de maio de 1865, foi “elogiado e mencionado na parte do mando da brigada pela inteligência, valor e acerto com que transmitiu as ordens que lhe foram dadas e pela citada batalha por ter instruído os soldados na ocasião da ação na boa elevação das pontarias”, tal como consta da Ordem do Dia nº 166, do Comando em Chefe.
Tomou parte nas ações de 16 e 18 de julho como voluntário e foi chamado para ajudante de ordens do corpo de Voluntários da Pátria, com promoção a tenente. Em 24 de maio, em Tuiuti, mereceu elogio “pelo valor e sangue frio com que se portou durante o combate; e bem assim porque, tendo perdido o cavalo de sua montaria por bala de fuzil, pediu permissão para combater a pé, com as forças que saíram do reduto central a expelir o inimigo do acampamento, portando-se ainda por essa ocasião com todo o denodo, sendo contuso na coxa esquerda”.
O Marquês de Caxias, comandante chefe, por despacho de 23 de fevereiro de 1868, mandou averbar em seus assentamentos os serviços que prestou , no dia 3 de novembro de 1867, o tenente Santos Silva, conforme atestado passado pelo Coronel Fernando Machado de Souza, do qual consta “haver-se portado com inteira dedicação ao serviço, fazendo parte de uma linha de atiradores que perseguia o inimigo, retomando-lhe uma boca de fogo, no que se houve com galhardia e bravura”.
Recolheu-se ao hospital por ferimento e foi servir no corpo provisório de Corrientes, na Argentina. Ao melhorar, partiu para a guarnição de Humaitá e, a pedido, reuniu-se ao Exército, seguindo para a cidade de Assunção. Em Piraju atuou como assistente da Repartição de Ajudante General, junto ao comando da Brigada de Infantaria que à direita do Exército Argentino participou da luta junto à subida das Cordilheiras, caminho do poço de Altas, Coacupê, Caraguataí, Gassory, Aracutaguá, Vila do Rosário, São Estanislau, Potreiro Capivari, Santo Izidro de Caruguati, Manduvirá. Foi esse o itinerário tomado por Santos Silva, perseguindo o inimigo, durante os anos de 1869 e 70.
“Pela ordem do dia da Repartição de Ajudante General número 755, consta ter sido aprovado plenamente no exame prático da arma de infantaria que fez...”. Comandou interinamente a 6ª Companhia “sendo pela mesma ordem do dia elogiado pela dedicação, zelo e perícia no desempenho daquele exercício” no ano de 1873; e depois teve a 4ª Cia. sob os seus cuidados, “passando a adjunto de Repartição do Deputado do Ajudante General, junto ao Comando da Divisão”.
“Apresentou-se ao Batalhão a 9 de maio, 1875, assumindo o comando da 1ª Cia. e na mesma data apresentou o diploma de Cavaleiro da Ordem da Rosa, com que, por Decreto de Agosto de 1866, foi remunerado pelos serviços prestados nos combates de 16 e 17 de abril, 2 e 24 de maio do referido ano”.
Terminada a árdua campanha, verificou-se que para o Brasil também fora trágico o resultado. Dos 85 mil soldados brasileiros empenhados no conflito, 24 mil morreram, sem contar feridos e doentes (Oliveira Lima in O Império Brasileiro). Quanto às despesas, as cifras elevaram-se a 600 mil contos (valor da época). Mas, movido por um sentimento fraterno, iria o vencedor renunciar a muitos dos seus direitos em benefícios dos derrotados. Durante a ocupação, numerosos brasileiros casaram-se com moças paraguaias. O tenente Santos Silva foi um deles. Casou-se em 1873.
“Em detalhe do batalhão de 5 de junho foi declarado ter apresentado certidão autêntica de seu casamento com Dona Faustina Elisa Pinazo e a de batismo de seu filho Annibal Theophilo, nascido em 21 de julho de 1873”.
Após ter passado, cumprindo missão que lhe foi destinada, pelas Colônias de Brusque e de Luís Alves, e cidade do Rio Grande, mereceu Victorino dos Santos Silva a promoção ao posto de Capitão, pela O.D.R. 362 de 06/06/1881. No ano seguinte apresentou à Secretaria os diplomas das medalhas das campanhas de 1865, e do Paraguai, “tendo o passador de prata com o número cinco, etc...”
Por carta Imperial de 27 de janeiro de 1883, foi nomeado cavaleiro da Ordem Militar de São Bento de Aviz, “conforme publicou a O.D.R. 908 de 1 de julho”.
Com sete anos de serviços prestados às cidades do Rio Grande e, principalmente, à Porto Alegre, o capitão Victorino dos Santos Silva recebeu a incumbência de servir na Província de Sergipe, para onde partiu assumindo o comando da Cia. a 1º de julho de 1887, com “valioso concurso prestado à sua administração e as provas exuberantes de zelo, disciplina e lealdade, dadas no exercício de suas funções legais”.
A cidade de Porto Alegre, pela sua população, em reconhecimento ao ilustre baiano, pela sua atuação e pelo seu passado, ofereceu-lhe linda espada de ouro, conforme Ordem do Dia da Repartição de Ajudante General, nº 2112 de 26 de maio. Deu-se a público ter o Ministério da Guerra, em portaria de nº 17 do dito mês, “permitido o uso da espada de honra que lhe fora oferecida pela população da Cidade de Porto Alegre, uma vez que a dita espada não se afaste do uniforme”.
Tendo correspondido à responsabilidade que lhe fora confiada, no norte do país, o militar regressou ao Rio Grande do Sul, onde permaneceu com a família até ser incumbido do comando do 16º Batalhão de Infantaria, Quartel do Forte de São Pedro, na Bahia.
21 de Julho de 1873
O território da República do Paraguai, terminada a guerra em 1870, ficou ocupado pelas tropas brasileiras vitoriosas. Na fortaleza de Humaitá – onde se haviam degladiado os inimigos – no ano de 1873 nasceu, no vigésimo primeiro dia do mês de julho, de pai brasileiro e mãe paraguaia, um menino que se chamaria Annibal Theophilo. Houve muito de pitoresco naquele romance. O tenente seqüestrara a bela moça em Assunção, seduzido pelos seus encantos, e a ocultara naquela cidadela.
A criança que nascera nas ruínas históricas, átrio de desesperanças, onde se haviam travado batalhas heróicas, trazia uma mensagem de união e paz, na mescla dos sangues antes desunidos.
Annibal Theophilo pertencia a uma estirpe valorosa de militares e homens públicos que se notabilizaram na história do Brasil e da Espanha. Não surpreende que sua vida tenha tido início entre os muros de um forte ermo marcado pelas cicatrizes da guerra, em cujo mastro tremulava o pavilhão verde-amarelo.
Os nomes ilustres do desembargador Cândido Ladislau Japiaçu e do seu pai, João Ladislau de Figueiredo e Melo, que fora, seguidamente, secretário do Governo da Província da Bahia, deputado e presidente da Província de Sergipe e Maranhão; e também o do Coronel Victorino dos Santos Silva, condecorado por bravura na Guerra do Paraguai, legaram ao poeta uma tradição de glórias que sempre honrou, valendo lembrar a sua atuação como cadete na Revolta da Armada, em 1893-94, e como voluntário em Canudos, em 1897.
Do ramo materno o poeta herdaria o título nobre da Casa castelhana dos Giron de Torres Y Espinosa. Banida da Espanha em conseqüência de uma conspiração carlista, transferiu-se a família para a América do Sul, radicando-se no Paraguai, onde nasceria a mãe de Annibal Theophilo, em 1857.
Dona Mamita
A paraguaia Faustina Elisa Pinazo da Silva, Dona Mamita (Mãezinha), teve vida longa. Embora com o coração amargurado tantos anos pela morte prematura de seu filho, atingiu a casa dos 80 anos. Várias vezes observaram-na declamando os versos célebres de seu inesquecível e único filho e de outros poetas, em português e espanhol. De pé, muito ereta, a veneranda senhora segurava o espaldar de uma cadeira e recitava A Cegonha, Angelus, Irmãs de Caridade, Palavras de um Forte, de Annibal Theophilo, ou A Judia, de Tomas Ribeiro, ou ainda trechos de Camões, em sotaque especialíssimo.
De manhã cedo D. Mamita, mesmo nos seus anos avançados, pouco antes de sua morte, fazia ginástica de flexões, seguida de exercício respiratório, antes do seu café matinal. Isso dá a medida da firmeza estóica do seu espírito. Depois iniciava as suas orações na rede da varanda de sua morada em Jacarepaguá, residência do saudoso jornalista Francisco Salles, irmão da viúva de Annibal Theophilo, que durante toda a sua vida de homem bom acolheu a família do poeta com dedicação e amor de verdadeiro pai.
Curioso era também ver-se Dona Mamita conversar longo tempo com seus papagaios, que pareciam poliglotas: puela poran / puela poran / ...Mamita mia / ...hermosa / ...mi vida / ...good night/ ...
Dona Mamita mereceu de seu filho um belo soneto, intitulado “Mater”, que muitas vezes foi lembrado nas reuniões literárias da cidade do Rio de Janeiro pelos amigos do poeta. Outro também de muita beleza foi dedicado à senhora, quando da volta de Annibal Theophilo da longa jornada no Amazonas:
O território da República do Paraguai, terminada a guerra em 1870, ficou ocupado pelas tropas brasileiras vitoriosas. Na fortaleza de Humaitá – onde se haviam degladiado os inimigos – no ano de 1873 nasceu, no vigésimo primeiro dia do mês de julho, de pai brasileiro e mãe paraguaia, um menino que se chamaria Annibal Theophilo. Houve muito de pitoresco naquele romance. O tenente seqüestrara a bela moça em Assunção, seduzido pelos seus encantos, e a ocultara naquela cidadela.
A criança que nascera nas ruínas históricas, átrio de desesperanças, onde se haviam travado batalhas heróicas, trazia uma mensagem de união e paz, na mescla dos sangues antes desunidos.
Annibal Theophilo pertencia a uma estirpe valorosa de militares e homens públicos que se notabilizaram na história do Brasil e da Espanha. Não surpreende que sua vida tenha tido início entre os muros de um forte ermo marcado pelas cicatrizes da guerra, em cujo mastro tremulava o pavilhão verde-amarelo.
Os nomes ilustres do desembargador Cândido Ladislau Japiaçu e do seu pai, João Ladislau de Figueiredo e Melo, que fora, seguidamente, secretário do Governo da Província da Bahia, deputado e presidente da Província de Sergipe e Maranhão; e também o do Coronel Victorino dos Santos Silva, condecorado por bravura na Guerra do Paraguai, legaram ao poeta uma tradição de glórias que sempre honrou, valendo lembrar a sua atuação como cadete na Revolta da Armada, em 1893-94, e como voluntário em Canudos, em 1897.
Do ramo materno o poeta herdaria o título nobre da Casa castelhana dos Giron de Torres Y Espinosa. Banida da Espanha em conseqüência de uma conspiração carlista, transferiu-se a família para a América do Sul, radicando-se no Paraguai, onde nasceria a mãe de Annibal Theophilo, em 1857.
Dona Mamita
A paraguaia Faustina Elisa Pinazo da Silva, Dona Mamita (Mãezinha), teve vida longa. Embora com o coração amargurado tantos anos pela morte prematura de seu filho, atingiu a casa dos 80 anos. Várias vezes observaram-na declamando os versos célebres de seu inesquecível e único filho e de outros poetas, em português e espanhol. De pé, muito ereta, a veneranda senhora segurava o espaldar de uma cadeira e recitava A Cegonha, Angelus, Irmãs de Caridade, Palavras de um Forte, de Annibal Theophilo, ou A Judia, de Tomas Ribeiro, ou ainda trechos de Camões, em sotaque especialíssimo.
De manhã cedo D. Mamita, mesmo nos seus anos avançados, pouco antes de sua morte, fazia ginástica de flexões, seguida de exercício respiratório, antes do seu café matinal. Isso dá a medida da firmeza estóica do seu espírito. Depois iniciava as suas orações na rede da varanda de sua morada em Jacarepaguá, residência do saudoso jornalista Francisco Salles, irmão da viúva de Annibal Theophilo, que durante toda a sua vida de homem bom acolheu a família do poeta com dedicação e amor de verdadeiro pai.
Curioso era também ver-se Dona Mamita conversar longo tempo com seus papagaios, que pareciam poliglotas: puela poran / puela poran / ...Mamita mia / ...hermosa / ...mi vida / ...good night/ ...
Dona Mamita mereceu de seu filho um belo soneto, intitulado “Mater”, que muitas vezes foi lembrado nas reuniões literárias da cidade do Rio de Janeiro pelos amigos do poeta. Outro também de muita beleza foi dedicado à senhora, quando da volta de Annibal Theophilo da longa jornada no Amazonas:
Em 1880, na cidade de Porto Alegre, vivia a família do capitão Victorino
dos Santos Silva. Dona “Mamita” aqui aparece com seu filho, aos 7 anos de idade |
À minha Mãe De longe venho, minha Mãe, ansioso Por te ver, por beijar-te o rosto brando, Buscando o céu do teu olhar radioso E teu carinho maternal buscando. Vejo-te alegre e em pranto. Teu bondoso Regaço aperta ao meu regaço; em bando As mágoas fogem-me e em caudal de gozo Entra-me o seio, tépido, cantando... Dá-me sorrisos. Por meu ser se expande Tanta ventura, Mãe idolatrada: Quando nos teus carinhos me agasalhas, Mais que se eu fosse Bonaparte – o Grande – Orgulhoso da glória conquistada Com o êxito feliz de cem batalhas. |
Dona Mamita adorava poesia e viera a conhecer, por intermédio do filho, o ilustre poeta Tomás Ribeiro, que representava o seu país, Portugal, no posto de cônsul, em Salvador, na Bahia. Admirava o poeta luso a ponto de saber de cor muitos dos seus longos poemas: “...Jardim da Europa à beira-mar plantado / de louros e de acácias olorosas”. Da límpida memória da guarani brotavam ainda as estrofes da Judia: “...Corria branda a noite, / o Tejo era sereno...”
Orientação Paterna
A formação de Annibal Theophilo foi, toda ela, pautada dentro do mais puro espírito de lealdade, justiça, respeito e amor ao próximo. O pai foi o seu grande mestre e guia. O poeta, desde menino, até os dezesseis anos, acompanhou o seu herói. Com uma carreira das mais brilhantes, o coronel Santos Silva foi pai dedicado. Transmitiu ao filho o exemplo de sua vida de militar laureado tantas e tantas vezes como prêmio à bravura demonstrada no campo de batalha, na memorável campanha do Paraguai. Durante o tempo em que o poeta esteve ao seu lado, aos poucos ia adquirindo uma idéia bem diferente da vida. Seu pai via o mundo por outro prisma, resultado de suas leituras e da própria experiência que tivera em momentos de perigo. E, por mais paradoxal que pareça, o poeta teria sempre a sua sensibilidade voltada para um passado longínquo, que lhe inspirou famosos versos. Todas as vezes que os amigos lembravam a figura de Annibal Theophilo, de imediato referiam-se às suas atitudes nobres, ao seu gênio alegre, à sua dedicação aos muitos companheiros que teve em sua vida tão breve. Militar Aos 16 anos Ao longo da trajetória do militar Santos Silva, sua mulher e seu filho acompanharam-lhe os passos. Muito viajaram, ora no sul do país, ora no leste, no norte, no sul outra vez, etc. Até os 16 anos, portanto, o poeta permaneceu ao lado do pai, quando veio a ingressar, em 1889, na Escola de Cadetes de Porto Alegre. Aí ganhou independência, passando a viver e agir por conta própria. |
Coronel Victorino dos Santos Silva, 1891, Bahia. Foto Republicano.
|
Precisamente no mês de março, segundo as Ordens do Dia números 177, 182 e 184, “submeteu-se aos exames o cadete Annibal Theophilo”. A 1º de julho do mesmo ano seria transferido do 4º Batalhão de Artilharia para o 9º de Infantaria, na Bahia.
A 19 de maio de 1893, prestou exames práticos das três Armas do Exército, feitos em conformidade com o regulamento em vigor. Foi aprovado plenamente.
De regresso ao Sul do país, o cadete, a 11 de setembro do mesmo ano, participaria da Revolta da Armada.
O Nome Do Poeta
Annibal Theophilo de Ladislau e Silva de Figueiredo e Mello de Giron de Torres Y Espinosa, nome de linhagem fidalga, recendendo à galanteria da nobre Espanha “...era o último varão da ilustre casa de Torres Y Espinosa, banida da península em seguida a um levante carlista sufocado pelo rei”.
Assim compreende-se melhor o temperamento cavalheiresco do artista.
Que vida heróica a de Annibal, dizia Martins Fontes. “Ele não precisava ter aquele fim, para ser um herói – a sua vida toda transcorreu em episódios surpreendentes e emocionantes”. E completava: “Este nome ressoante, empenachado, ornamental e altivo, onde parece ouvir-se um tinido de espadas, um tilintar de esporas; este nome onde parece ver-se esvoaçar plumas de sombrero e ondear a capa aventureira de D. Juan; este nome com ritmo de poesia e com altivez de raça, que ficaria bem ao protagonista de um drama de Lope de Veja, onde houvesse raptos e duelos, desvarios de amor e de bravura, excessos de insolência e pundonor; este nome heráldico, complicado como um brasão castelhano, comprido como uma espada flamenga; este nome arcaico e espetaculoso, que parece contemporâneo de Cyrano e de Camões – este nome é toda uma biografia.
Não se torna preciso contarem que o dono deste nome tinha uma concepção cavalheiresca da honra, um brio suscetível de fidalgo, a bravura estética de um campeão, a impulsividade romanesca e combativa das almas ardente, o idealismo impenitente de um poeta da família belicosa de Trinta-Fortes, a sentimentalidade boêmia e teatral de um Dom César de Bazan, a vocação amorosa de um Tenório e a fidelidade afetiva de um Pylades.
Tudo aí está, nesse nome de drama de capa e espada, nesse nome de predestinado à tragédia, que tão maravilhosamente se presta na sua beleza e na sua imponência simbólica para patrono de uma ordem de nobreza mental, para fundador de uma confraria de honra.
Annibal Theophilo era um anacronismo. Era uma figura do século dos Mosqueteiros extraviados no século da Guarda Nacional. Nascera numa fortaleza, como um paladino. Sua mãe foi a companheira de um herói e gerara-o imersa num ambiente sugestionador de guerra e de vitória. Seu avô fora nem mais nem menos do que a vítima da mesma fidelidade intransigente e da mesma cavalheiresca bravura que originou a tragédia em que tombou o neto. Annibal, morto ao findar o sarau de poetas, no átrio de um palácio, ao acender as luzes, morre vítima da concepção exaltada da honra e da amizade, tal qual o avô, banido de Espanha como conspirador carlista, fora vítima do seu idealismo intransigente, da fidelidade incondicional ao seu rei.
Por que a imprensa não se serviu desse nome à Corneille para o título das notícias que dedicou ao fim trágico de Annibal? Esse nome, que é a roupagem clássica do Campeador das letras, evitava uma biografia, e nenhum título mais adequado à tragédia poderia arquitetar a imaginação dos jornalistas. Só esse nome deveria ser esculpido como epitáfio do poeta de “Rimas”. Esse nome é uma legenda. Esse nome é uma consagração: Annibal Theophilo de Ladislau e Silva de Figueiredo e Mello de Giron de Torres Y Espinosa”. (Martins Fontes)
Particular homenagem ao poeta, preferimos manter o seu nome tal como recebeu e usava, com os dois “n” em Annibal e “th” e “ph” em Theophilo. Aníbal Teófilo não seria o mesmo personagem.
A Infância
Annibal Theophilo nasceu poeta. Aos 5 anos de idade, no Rio Grande do Sul, já se manifestava nele a doce vocação. Da sua filha ouvíramos, há alguns anos, que Dona Mamita, mãe de Annibal, quando lembrava o filho morto, dentre outras coisas, dizia ter sido ele um menino com grande talento para as letras. Utilizava as rimas no trato de vários assuntos, sempre com graça e simplicidade. Mais tarde, nos seus 12 anos, entregava-se à assídua leitura dos livros, orientado por seu pai. Estudava o francês, italiano, latim e grego, sem desprezar o espanhol e o guarani, por influência, certamente, de sua mãe.
A 19 de maio de 1893, prestou exames práticos das três Armas do Exército, feitos em conformidade com o regulamento em vigor. Foi aprovado plenamente.
De regresso ao Sul do país, o cadete, a 11 de setembro do mesmo ano, participaria da Revolta da Armada.
O Nome Do Poeta
Annibal Theophilo de Ladislau e Silva de Figueiredo e Mello de Giron de Torres Y Espinosa, nome de linhagem fidalga, recendendo à galanteria da nobre Espanha “...era o último varão da ilustre casa de Torres Y Espinosa, banida da península em seguida a um levante carlista sufocado pelo rei”.
Assim compreende-se melhor o temperamento cavalheiresco do artista.
Que vida heróica a de Annibal, dizia Martins Fontes. “Ele não precisava ter aquele fim, para ser um herói – a sua vida toda transcorreu em episódios surpreendentes e emocionantes”. E completava: “Este nome ressoante, empenachado, ornamental e altivo, onde parece ouvir-se um tinido de espadas, um tilintar de esporas; este nome onde parece ver-se esvoaçar plumas de sombrero e ondear a capa aventureira de D. Juan; este nome com ritmo de poesia e com altivez de raça, que ficaria bem ao protagonista de um drama de Lope de Veja, onde houvesse raptos e duelos, desvarios de amor e de bravura, excessos de insolência e pundonor; este nome heráldico, complicado como um brasão castelhano, comprido como uma espada flamenga; este nome arcaico e espetaculoso, que parece contemporâneo de Cyrano e de Camões – este nome é toda uma biografia.
Não se torna preciso contarem que o dono deste nome tinha uma concepção cavalheiresca da honra, um brio suscetível de fidalgo, a bravura estética de um campeão, a impulsividade romanesca e combativa das almas ardente, o idealismo impenitente de um poeta da família belicosa de Trinta-Fortes, a sentimentalidade boêmia e teatral de um Dom César de Bazan, a vocação amorosa de um Tenório e a fidelidade afetiva de um Pylades.
Tudo aí está, nesse nome de drama de capa e espada, nesse nome de predestinado à tragédia, que tão maravilhosamente se presta na sua beleza e na sua imponência simbólica para patrono de uma ordem de nobreza mental, para fundador de uma confraria de honra.
Annibal Theophilo era um anacronismo. Era uma figura do século dos Mosqueteiros extraviados no século da Guarda Nacional. Nascera numa fortaleza, como um paladino. Sua mãe foi a companheira de um herói e gerara-o imersa num ambiente sugestionador de guerra e de vitória. Seu avô fora nem mais nem menos do que a vítima da mesma fidelidade intransigente e da mesma cavalheiresca bravura que originou a tragédia em que tombou o neto. Annibal, morto ao findar o sarau de poetas, no átrio de um palácio, ao acender as luzes, morre vítima da concepção exaltada da honra e da amizade, tal qual o avô, banido de Espanha como conspirador carlista, fora vítima do seu idealismo intransigente, da fidelidade incondicional ao seu rei.
Por que a imprensa não se serviu desse nome à Corneille para o título das notícias que dedicou ao fim trágico de Annibal? Esse nome, que é a roupagem clássica do Campeador das letras, evitava uma biografia, e nenhum título mais adequado à tragédia poderia arquitetar a imaginação dos jornalistas. Só esse nome deveria ser esculpido como epitáfio do poeta de “Rimas”. Esse nome é uma legenda. Esse nome é uma consagração: Annibal Theophilo de Ladislau e Silva de Figueiredo e Mello de Giron de Torres Y Espinosa”. (Martins Fontes)
Particular homenagem ao poeta, preferimos manter o seu nome tal como recebeu e usava, com os dois “n” em Annibal e “th” e “ph” em Theophilo. Aníbal Teófilo não seria o mesmo personagem.
A Infância
Annibal Theophilo nasceu poeta. Aos 5 anos de idade, no Rio Grande do Sul, já se manifestava nele a doce vocação. Da sua filha ouvíramos, há alguns anos, que Dona Mamita, mãe de Annibal, quando lembrava o filho morto, dentre outras coisas, dizia ter sido ele um menino com grande talento para as letras. Utilizava as rimas no trato de vários assuntos, sempre com graça e simplicidade. Mais tarde, nos seus 12 anos, entregava-se à assídua leitura dos livros, orientado por seu pai. Estudava o francês, italiano, latim e grego, sem desprezar o espanhol e o guarani, por influência, certamente, de sua mãe.
Este site foi elaborado com base em pesquisas historicas. Todos os direitos são reservados ao autor, Arnaldo da Silva Rodrigues. © 2015
A reprodução ou uso de qualquer parte deste site deve ser previamente acordada com o autor: [email protected].
A reprodução ou uso de qualquer parte deste site deve ser previamente acordada com o autor: [email protected].